Mussum – O Filmis é uma cinebiografia que você vai querer assistir de novo

Aílton Graça faz grande atuação como Mussum. Desirée do Valle / Divulgação

Mussum – O Filmis é um dos casos raros de cinebiografias bem-sucedidas. Dirigido por Silvio Guindane, o premiadíssimo filme do 51º Festival de Cinema de Gramado se propõe a mostrar Antônio Carlos Bernardes Gomes (1941-1994), o Mussum, além do papel inesquecível do humorista em Os Trapalhões, ao lado de Didi, Dedé e Zacarias. E, de fato, ele cumpre o seu objetivo. 

Partindo da infância pobre ao grande estrelado com o quarteto humorístico que ganhou o Brasil nas décadas de 1970 e 1980, O Filmis intercala entre a emoção e o riso, vindo do bom humor característico de Antônio Carlos, que sempre enxergou o lado bom da vida. Apesar das dificuldades e da criação rígida da mãe Dona Malvina, aqui interpretado graciosamente pelas atrizes Cacau Potássio e Neusa Borges, o rapaz nasceu com um talento natural para a música, tanto que não abria mão do grupo Os Originais do Samba, e encontrou, ao longo da sua trajetória, motivos para fazer o povo sorrir. 

Com roteiro escrito por Paulo Cursino, o filme não inventa a roda e segue a narrativa tradicional de acompanhar o crescimento de Antônio Carlos, tendo como foco a sua relação com Dona Malvina, que moldou praticamente a personalidade do artista. É admirável ter conhecimento desta cumplicidade entre mãe e filho que perdurou até o fim, e como é partir disso que o filme dá o seu tom, mostrando a união familiar em cada etapa da carreira de Mussum, e também como é importante compartilhar esses momentos de uma família negra na telona para o grande público. 

Além disso, acompanhar os bastidores dos programas de televisão, inclusive assistir o batizado de Mussum por Grande Otelo (mais um grande papel de Nando Cunha), é divertidíssimo. É de encher os olhos não só a tamanha sintonia entre Aílton Graça e Nando Cunha, mas como o papel caiu como uma luva para os dois. É impressionante como Aílton Graça encarou e deixou Mussum a uma altura inalcançável. Não só pela ótima atuação, mas porque o ator personaliza a sua interpretação do trapalhão de um jeito que não é pura imitação, é o toque refinado e  pessoal de Graça que faz, com o perdão do trocadilho, Mussum ter a sua graça. 

O Filmis é recheado de personagens importantes e atores que abraçaram com tudo essa história. Além de Aílton, Thawan Lucas Bandeira e Yuri Marçal também interpretam Mussum na infância e na juventude, respectivamente, e é impressionante enxergar a transição de cada ator para cada fase da vida do sambista por conta da essência, que permanece a mesma. 

Entre essas grandes atuações, os destaques ficam para Cacau Potássio e Neusa Borges. Conhecida pelo humor expansivo, Cacau brilha demais neste filme pela sua Malvina cheia de garra, mas ainda assim contida devido às condições tristes da época. Impossível não deixar algumas lágrimas escorrerem quando o pequeno Mussum ensina a mãe a escrever. O mesmo vale para Neusa Borges. Ela pedindo para o filho cantar a Dona do Primeiro Andar é de encher o coração e fica fácil entender porque Mussum sempre fez de tudo para mantê-la por perto. 

Não é de se surpreender enxergar porque Mussum – O Filmis levou seis kikitos na última edição do Festival de Cinema de Gramado. É daquelas cinebiografias feijão com arroz que, quando bem feita, faz a gente sair com um sorriso largo do cinema. Silvio Guindane fez uma ótima estreia como diretor de um longa-metragem ao retratar a trajetória do seu biografado de um modo humano, interessante e informativo. Ele é muito preciso nos recortes dados para contar um pouco como era Mussum como filho, irmão e até mesmo, como o conquistador que era na noite. Essa é a cereja do bolo qualquer cinebiografia precisa: ter o que contar. São os detalhes de uma relação, as histórias que marcam e o espaço dado para que todos façam parte desta grande festa. Não é de se surpreender também se você for assistir Mussum – O Filmis mais de uma vez. 

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