Meu Nome é Gal é uma cinebiografia que não precisava ser feita

Sophie Charlotte foi uma ótima escolha para o papel. Foto: Stella Carvalho / Divulgação

Meu Nome é Gal não deveria existir e não digo isso por mal. Longe disso. Mas, infelizmente, não há uma história suficientemente interessante que sustente o filme dirigido por Lô Politi e Dandara Ferreira.

Gal Costa (1945-2022) era tão reservada na sua vida pessoal, que não sobra nada de atraente ou de novo para contar em um longa-metragem que a maioria já não saiba o principal: a sua paixão pela música. Isso é nítido do início ao fim no roteiro escrito por Lô ao lado de Maíra Bühler e Mirna Nogueira, mas, ainda assim, a trama parece um conjunto de retalhos incompletos jogados ao vento entrelaçado com momentos musicais com Sophie Charlotte cantando corajosamente sem qualquer tipo de dublagem. A atriz canta super bem, é preciso reconhecer, contudo, estamos falando de uma das vozes mais grandiosas da MPB, sabe? Você não escolhe cantar sobre ela, especialmente se você não supera a original.

O que torna Meu Nome é Gal ainda mais injustificável é o fato da personalidade da protagonista não se sobressair em nenhum momento durante a história. Gal Costa, aqui, vive à sombra dos famosos amigos como Caetano Veloso (Rodrigo Lélis), Gilberto Gil (Dan Ferreira), Maria Bethânia (interpretado pela diretora Dandara) e até mesmo do seu empresário, Guilherme Araújo (Luis Lobianco), que não perde a chance de marcar presença por onde passa. Entende que não tem porquê fazer um filme sobre alguém tão “na sua” que não tenha nada que a faça se destacar ou ser minimamente interessante. E, mesmo sendo talentosa, no filme, Gal parece aquela pessoa que somente os seus amigos enxergam potencial e querem “fazer acontecer” a todo custo em qualquer lugar, mas nunca deslancha.

Sophie. Foto: Stella Carvalho / Divulgação

E, assim, nem todo mundo, em especial aos jovens de hoje, tem noção do que foi o tropicalismo, o importante movimento do cenário cultural brasileiro na década de 1960, e simplesmente reduzi-lo à rápidas palavras de conhecimento, assim como a própria não contextualização da Ditadura Militar na história, ou é subestimar o público ou é pura preguiça de explicar um dos pontos mais cruciais na carreira de Gal. Ainda mais quando o filme se compromete a ser um recorte preciso do início da carreira da cantora.

Procurando algo de positivo em Meu Nome é Gal, Sophie Charlotte foi a escolha certa para viver a baiana justamente pela atriz ter essas características marcantes como a doçura e a firmeza. Então, aquele ar introspectivo é notável, assim como o seu desabrochar no ato final. Considero a atriz uma das melhores da atual geração. Mas, ainda assim, é possível compreender porque tantas pessoas julgam alguém tímido como arrogante e é assim que, infelizmente, Gal parece em algumas cenas.

Enfim, Meu Nome é Gal tenta espremer ao máximo alguma coisa na história autorizada a contar de Gal Costa, mostrando ser parte do efeito chapa branca de grande parte das cinebiografias lançadas recentemente, e que assim, como a maioria, não dão razão de existirem.

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