
A primeira infância é o tema central do documentário Dos 3 Aos 3, dirigido por Pablo Lobato, que chega aos cinemas no dia 4 de maio. Sob a luz dos saberes da pediatra austríaca Emmi Pikler (1902-1984), o filme acompanha o crescimento do menino Ravi, dos 3 meses aos 3 anos, filho da pedagoga Bianca Bethonico, que realizou o longa junto a Lobato e é uma estudiosa da abordagem de Pikler.
Radicada na Hungria, a pediatra austríaca observou milhares de crianças e amadureceu, após a segunda guerra mundial, uma abordagem revolucionária, dedicada à educação infantil. Tendo como base o cuidado com a saúde física e o respeito à individualidade da criança, um de seus princípios é o vínculo entre o adulto que cuida e o bebê. Outro ponto fundamental para Pikler é o desenvolvimento do bebê por meio da autonomia e do brincar livre.
“O convite surgiu há 10 anos. A princípio, não era para se tornar um filme, mas com o tempo, o material foi ganhando corpo, virando poesia, até que se tornou um filme. Eu não conhecia as teorias de Emmi Pikler, mas vi uma relação interessante. Eu sou artista plástico e meu trabalho parte da observação do material. O meu modo de filmar também faz parte da observação. Então, eu vi esse encontro de interesses”, explicou Lobato em uma entrevista exclusiva para Cine Looou.
“Intervenha menos, observe mais” é uma das frases chaves da pediatra. “Emmi Pikler é pouco conhecida, mas tem acontecido do número de adeptos e estudiosos aumentarem nos últimos anos. Vamos ouvir falar muito do legado dela”, projeta o artista plástico e cineasta. “É um dos filmes mais diferentes que eu já fiz. É um tipo de cinema novo para mim, pois tem um destinatário mais delineado. Meus filmes ficaram mais comprometidos com a arte e não tinham funções mais claras como esse trabalho, que é compartilhar esses saberes da Emmi Pikler”, completou.
A arte e a formação do ser humano
A ideia de Bianca, inicialmente, não era fazer um filme sobre o filho, mas documentar e estudar seu desenvolvimento nas diversas fases. Ao chamar o cineasta para colaborar, a experiência se desdobrou, culminando na realização do longa-metragem. “Ela está dentro da realização comigo. Encontramos uma forma de compartilhar dúvidas e descobertas no filme. Eu não queria fazer um filme didático e não podia fazer como os meus outros filmes, que mergulham na poesia. Encontrar essa dose talvez tenha sido o ponto mais trabalhoso. Mas a Bianca é uma pessoa sensível e tem interesse pela arte. Ela está no clima de celebrar”, disse Lobato.

Tratando o tempo como aliado, o longa foi filmado entre 2013 e 2021. Pablo explica que nesse período ele e Bianca puderam se conhecer melhor. Descobriram juntos a melhor maneira de documentar o crescimento de Ravi e como transformar a experiência em um filme que pudesse nutrir aquela ou aquele que cuida, estudiosos ou leigos atentos ao desenvolvimento infantil.
“Eu trabalhei aprendendo e aprendi trabalhando. Estar diante desse ser humano em crescimento é uma escola. A criança é a fonte da pedagogia e isso reforça o caminho que eu estava tendo com a arte e também reforça o meu interesse pela arte com a formação do ser humano. É muito bom quando essas coisas se aproximam”, relatou.