
Nós precisamos morrer para renascer. É assim que Joana (Letícia Kacperski) encara a vida após a morte de sua tia-avó, de quem era muito próxima e que, de muitas maneiras, possuía uma enorme admiração.
Em A Primeira Morte de Joana, de Cristiane Oliveira, a protagonista lida com a partida de sua ente querida investigando sobre os mistérios que a mesma deixou para trás, especialmente no que diz respeito à vida pessoal. O fato da sua tia-avó nunca ter namorado a intriga profundamente. Ao lado da melhor amiga, Carolina (Isabela Bressane), Joana vai acabar conhecendo muito mais sobre si mesma do que esperava.

A diretora Cristiane Oliveira trata das primeiras descobertas juvenis sem medo de ser honesta e cutucar preconceitos. Situada em uma pequena cidade sulista brasileira, a história aproveita ganchos tanto em relação ao contexto pessoal da personagem quanto à comunidade que a rodeia para falar sobre essa fase de descobertas da juventude e dos primeiros enfrentamentos como ser humano.
Aprendendo “a ter modos”
Se Joana está entrando na adolescência, ela precisa aprender a “ter modos de mocinha”, porque ela não é mais criança. Mas se algum menino a provoca, quem tem que ser adulta é ela. Típico de uma cidade do interior, não é mesmo? Ao mesmo tempo que precisa “aguentar” os tratamentos diferenciados, ela também aprende que outras pessoas também “aguentam” os repreendimentos alheios.
Como, por exemplo, o caso da sua avó criticar o envolvimento da sua mãe com o candomblé e a da sua mãe criticando a sua amizade com Carolina. Tornando o ciclo de machismos e preconceitos sobre sexualidade e religião intermináveis naquele lugar.
Mas essa jornada de descobertas é fichinha para Joana que, influenciada pela tia-avó, uma mulher muito à frente do seu tempo, quer seguir os mesmos passos e tocar o foda-se para o que os outros pensam sobre ela. Um ato de coragem para uma protagonista que renasce para viver sem covardia.






A Primeira Morte de Joana dialoga muito com o filme belga Close (2022), por também lidar com temas relacionados à amizade, sexualidade e ao julgamento alheio. Apesar das suas diferenças, em especial da reação dos seus protagonistas, é interessante observar como essa fase juvenil determina muito quem seremos no futuro e como vamos enfrentar as demais dores que sentiremos na vida.