
A maternidade nunca esteve entre os meus planos. Desde criança, brincar de “ser mãe” com as minhas bonecas não estava entre as minhas atividades favoritas. Ao longo da vida, esse desejo tampouco floresceu em mim. E, aos poucos, conforme fui amadurecendo, fui entendendo o porquê disso. É o medo. É o medo de engravidar, de parir, de ser responsável pela vida de alguém, de não ter controle sobre uma pessoa, de não saber quem ele ou ela vai se tornar, de não conseguir sustentar e, principalmente, o medo de perdê-lo(a). Esses sentimentos são universais, é claro, contudo, somente as mães poderão senti-los de verdade.
Dirigido por Cristiano Burlan, A Mãe retrata o eterno luto sobre uma vida perdida em meio às banalidades do dia a dia. É assim que acompanhamos Maria (Marcélia Cartaxo), uma mãe solo que vive na periferia de São Paulo que, após voltar para a casa depois de um dia normal, não encontra o seu filho, Valdo (Dustin Farias). Depois de uma busca ininterrupta pela vizinhança, ela começa a ameaçar a tranquilidade dos traficantes locais que decidem contar que o adolescente foi assassinado pela Polícia Militar. Incrédula ela começa uma procura vertiginosa pela verdade.
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A Mãe é daqueles filmes angustiantes em que a busca incessante de uma mãe atrás do seu filho contagia o espectador, que se vê envolvido pelo drama semelhante à realidade de muitas mulheres que não sabem onde estão os corpos de seus filhos. Burlan compartilha um pouco da sua vivência neste roteiro, escrito em conjunto com Ana Carolina Marinho, ao relatar as violências gratuitas em cima de famílias pobres que sofrem com os “arquivamentos” de seus casos, das lutas incessantes de mães que denunciam a opressão do Estado, que não se importa com vidas periféricas e as descartam como se fossem objetos inutilizados.
O longa se sobressai com mais uma atuação impactante de Marcélia Cartaxo (Pacarrete), que intensifica a dor de uma mãe que não sabe o paradeiro de seu filho por meio do seu olhar, sempre intacto e atento a todos os lados, esperando que Valdo apareça a qualquer instante, do seu corpo que, aos poucos, vai se curvando diante da falta de empatia dos outros e da sua voz por meio de palavras perdidas, reflexo de sua mente e corações desorientados pela falta de respostas. A dinâmica da atriz com o Dustin, que faz a sua estreia em um filme, é muito orgânica, além da aparência física da dupla tornar, ainda mais, real a relação entre mãe e filho.
A Mãe ainda conta com a participação de Débora Silva, fundadora do Movimento Mães de Maio, uma organização que reúne outras mulheres que tiveram seus filhos desaparecidos e que lutam contra a “ditadura continuada” do Estado que segue violentando os mais pobres do País. É quando a história encontra o movimento que o filme expressa, corajosamente, o seu posicionamento crítico à violência que ainda segue provocando dores e lutos insuperáveis em um País que perde, diariamente, vidas inocentes.
A Mãe foi exibido na Mostra Competitiva de Longas-Metragens Brasileiros do 50º Festival de Cinema de Gramado.
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