Nosso Sonho – A História de Claudinho e Buchecha mostra como a amizade salva vidas

Juan Paiva e Lucas Penteado são Buchecha e Claudinho. Foto: Divulgação

A história de Claudinho e Buchecha virou cinema. Dirigido por Eduardo Albergaria, Nosso Sonho conta a trajetória de Cláudio Rodrigues de Mattos (1975-2002) e Claucirlei Jovêncio de Sousa, mais conhecido como Buchecha, que embalaram multidões com seu irreconhecível funk melody dos morros cariocas que ganhou o Brasil na década de 1990. Quem cresceu nesse período, inclusive, vai se deixar levar pela nostalgia proposta da produção, seja pelos hits, pela estética ou pela saudade de relembrar a alegria de ver esses dois amigos brilhando por aí.

Narrado pelo ponto de vista de Buchecha (Juan Paiva), o carioca relembra a infância pobre na cidade de São Gonçalo (RJ), lugar onde teve início a sua amizade com Claudinho (Lucas Penteado), e também em que passou por dificuldades ao lado da mãe, decorrentes dos problemas do alcoolismo do pai, Souza (Nando Cunha). Desde da infância, o protagonista faz questão de mencionar como Claudinho salvou a sua vida de diferentes formas. A partir daí, o filme ganha o tom de homenagem ao falecido amigo que tanto o resgatou de acidentes na infância quanto o fez desabrochar para o seu maior talento: a música.

Gustavo Coelho é Buchecha na infância. Foto: Divulgação

Claudinho, interpretado graciosamente por Lucas Penteado, irradia um carisma e bom humor inabalável, como se nada pudesse lhe tirar o direito de sonhar. Além de ser muito esperto, o personagem emana muito o perfil protetor, sendo aquele parceiro que vai te orientar, te escutar e, principalmente, te aplaudir de onde quer que esteja. Como se fosse, realmente, um anjo da guarda. Tudo isso é sentido pelas palavras saudosistas de Buchecha, que coloca Claudinho como uma referência masculina na sua vida, alguém para admirar e se inspirar. Juan Paiva carrega, desde do início de Nosso Sonho, o peso de ter que lidar com diversos desafios pessoais entrelaçados com a sua timidez e insegurança, mas que se transforma quando está ao lado do seu melhor amigo.

Honesto e sensível

Por isso, Nosso Sonho emociona por ser uma relato honesto e sensível de Buchecha em memória ao artista que teve a vida tragicamente interrompida na madrugada de 13 de julho de 2002 após um acidente de carro. Mas, o filme também tem as suas ressalvas. Apesar da direção de fotografia de João Atala apostar no contraste estético dos anos 1990, a mesma dificulta a visão em cenas escuras, nos fazendo perder de vista os personagens e não valorizando os atores negros. Não poderia ter ninguém melhor do que contar essa história do que o próprio Buchecha, mas o roteiro de Albergaria, escrito em conjunto com Daniel Dias, Mauricio Lissovsky, Fernando Velasco e Júnior Vieira, não se aprofunda nas origens e em outros momentos mais complexos de Claudinho. Mesmo que seja pelo ponto de vista de outra pessoa, esse complemento ainda é necessário pela humanização do personagem.

No longa, Nando Cunha encena um dos seus melhores papéis da carreira. Conhecido pela sua doçura e alegria, em Nosso Sonho, o ator deixa essas características de lado para interpretar Souza, um homem maltratado pela vida, que desconta as suas dores na bebida e a sua raiva nas palavras frias ditas ao pequeno Buchecha. Também apaixonado por música, o patriarca não teve as mesmas oportunidades que o filho e, por isso, acredita que o jovem teria o mesmo destino. O não dito em cena é sentido, tanto pela busca da validação paterna quanto pelo sofrimento de não saber expressar amor a um filho. É um personagem difícil, porém, muito bem executado pelo ator.

Nando Cunha interpreta Souza, pai de Buchecha. Foto: Divulgação

Nosso Sonho – A História de Claudinho e Buchecha poderia ser só mais uma cinebiografia de artistas que marcaram a história da música brasileira, mas o longa-metragem sabe se sobressair ao elevar o seu gênero, não o levando a lugares comuns e apostando na sua autenticidade, a mesma que consagrou a dupla carioca. É uma homenagem a um amigo que iluminou a jornada de uma pessoa que, também, poderia se tornar mais uma na multidão, e alegrou a vida de muitas outras. Parece que Claudinho sabia que a vida aqui seria breve. Por isso, fez questão de aproveitar até ela se tornar, de fato, uma história de cinema.

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