#51FCG: Tia Virgínia, você pode contar comigo

Vera Holtz é a tia que gostaríamos de ter. Foto: Andrea Testoni / Divulgação

Exibido na noite de domingo na Mostra Competitiva de Longas Brasileiros, o novo filme dirigido e roteirizado por Fabio Meira já é um dos meus favoritos no 51º Festival de Cinema de Gramado.

Vera Holtz dá vida à personagem título, uma mulher de 70 anos, que nunca se casou ou teve filhos. Convencida pelas irmãs Vanda e Valquíria (vividas por Arlete Salles e Louise Cardoso), Virgínia parou a sua vida e mudou-se de cidade para cuidar exclusivamente da mãe adoecida e idosa. As irmãs se reencontram na véspera de Natal na intenção de passarem a data juntas, como se fossem, verdadeiramente, uma família unida. Porém, ao decorrer do tempo, todas as verdades serão ditas na cara de cada uma, como um verdadeiro banquete natalino.

Tia Virgínia é um drama familiar que não tem medo de ser. Fabio Meira é um dos raros diretores homens que sabe usar as contradições do universo feminino em suas histórias de modo muito humano e sensível. Seu filme de estreia, Duas Irenes (2017), também tratava de protagonistas femininas se descobrindo na flor da juventude e investigando segredos familiares. Em Tia Virgínia, o cineasta coloca mulheres maduras para discutir a relação em um feriado que é usado justamente para celebrar a união, mas isso está longe de acontecer nesta casa cheia de mágoas mofadas.

Elenco conta ainda com Louise Cardoso e Arlete Salles. Foto: Andréa Testoni / Divulgação

Tia Virgínia está cansada e o filme pauta justamente essa obrigação aplicada a mulheres, especialmente as solteiras, de cuidar dos pais idosos, uma herança patriarcal que ainda se sustenta, já que o cenário machista em que vivemos sempre jogará o peso do “cuidado com o próximo” às mulheres. Afinal, as mulheres servem para isso, não é mesmo? Uma discussão atemporal que o diretor traz à tona em diálogos, estética e comportamentos sem pudor, enrolação ou fingimentos. E tudo isso é maravilhoso de assistir.

Arlete Salles e Louise Cardoso, acompanhadas pelo grandioso Antônio Pitanga, formam um elenco prazeroso de assistir. É como torcer pela briga para vê-las expressando sentimentos inchados e aplaudindo por isso. Este elenco revela a personalidade de seus personagens que soma-se aos problemas, tensões e frustrações desta história. Especialmente Pitanga que é sagaz em pontos cruciais do drama.

Vera Holtz faz uma atuação estrondosa que, por vezes, pode enganar o público pelo misto de emoções que está cuspindo em quem merece. Ou melhor, devolvendo o que lhe foi imposto pelo moralismo das irmãs. Não sabemos do passado da personagem, no entanto, sentimos o peso de uma vida interrompida de quem tinha tanto para viver longe dos julgamentos de quem nunca se importou. E isso é só um terço que posso falar sobre a Tia Virgínia de Vera Holtz que não perdoa nada na sua frente.

2 comentários

  1. […] Tia Virgínia e Mais Pesado é o Céu foram os demais vencedores, levando 6 e 3 Kikitos respectivamente, entre eles o de Melhor Atriz para Vera Holtz e Melhor Direção para Petrus Cariry. Já o documentário Anhangabaú, de Lufe Bollini, e o longa-metragem gaúcho Hamlet, de Zeca Brito, foram eleitos os melhores filmes das Mostras de Documentários e Gaúcha. […]

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