Gramado: As Duas Irenes ★★★★★

Mais uma vez, um filme feminista tomou conta da 45ª edição do Festival de Cinema de Gramado na noite desse domingo. As Duas Irenes, do diretor Fabio Meira, é incrível pela a sua sutileza e inteligência em apresentar uma história complexa e envolvente. Irene (Priscila Bittencourt) descobre que seu pai Tonico (Marco Ricca) tem uma outra família escondida, inclusive, uma filha com a sua mesma idade e com mesmo nome. Curiosa, ela se arrisca a conhecer esta segunda vida que o pai tem em um outra cidade, principalmente quem é esta outra Irene.

O longa dirigido por Fabio Meira é genial tanto por sua condução quanto pela história. O que poderia, simplesmente, caminhar para o óbvio e denunciar esta poligamia de Tonico, se transforma em uma história de amadurecimento para a protagonista, que inesperadamente tenta entender esta vida paralela do pai. Entretanto, ao se infiltrar no ambiente da outra Irene, a jovem também explora a chance de ser outra pessoa em um lugar totalmente diferente da sua casa, onde é invisível aos olhos da família. Ofuscada pela irmã mais velha e perfeita, e com a caçula engraçadinha que rouba atenção de todos, Irene também tem que lidar com rigidez da mãe Mirinha (Susana Ribeiro), que a sempre coloca em segundo plano. O cenário é perfeito para descobrir um escape, assim como fez o seu pai ao criar uma segunda família com Neusa (Inês Peixoto) e Irene (Isabela Torres). A adolescente então, inicia esta jornada de descobrimento de uma vida tão libertadora, perceptível assim que entra na casa da meia-irmã. E se antes a intenção era desmascarar o seu pai, Irene desmembra este novo ambiente e absorve muito mais do que esperava.

Literalmente, as duas Irenes da história deixam o longa fantasticamente perfeito, pois uma complementa a outra. Principalmente nas essências das personagens. Se a primeira Irene é introvertida, a segunda não tem pudores em falar as coisas. Por mais simples que sejam. Ao longo da narrativa, as duas vão aprendendo sobre suas diferenças e que isso vai acabar as unindo nesta trama. A Priscila Bittencourt exibe a opressão vivida em sua casa cheia de regras e o quanto é submissa as ordens dos pais. O trabalho da atriz é discreto, mas marcante ao não deixar a personagem apagada e a torna interessante para o público. A Isabela Torres também é outro presente ao filme, que assim como a sua mãe no filme, Inês Peixoto, são a dupla perfeita para representar o oposto da outra família de Tonico. A mãe e filha são o frescor da história e as atrizes estão tão sintonizadas que dá para sentir o amor das duas através das cenas.

Fabio Meira soube conduzir perfeitamente este conflito familiar de forma ingênua e respeitosa. Cada detalhe, seja em cena, objeto, roupa ou até mesmo nos diálogos, é importante para que se possa amarrar as complexidades dos personagens. Nada é gratuito e cada reflexão é excitante após assistir o longa. As Duas Irenes é uma história tão comum que, certamente, você já deve ter ouvido falar de algo parecido na sua volta, mas a produção deu um toque sagaz ao deixar que as personagens principais pudessem apresentar um desfecho surpreendente. Em tempos em que a sororidade tem se tornado uma prática entre as mulheres, o bom do filme é que ele soube exatamente usá-lo a seu favor colocando a união das irmãs como resultado para que esta história de duas famílias, duas irenes, duas vidas tenha um fim. O filme é feminista por apresentar os dois pontos de vistas de cada Irene e de como cada uma se sente, e a partir disto, decidirem para algo mais justo para ambas as famílias. As Duas Irenes é a prova de que a revolução feminista não só será televisionada, mas como vai passar na tela de cinema.

Duas Irenes (2017) | Direção e Roteiro: Fabio Meira | Elenco: Priscila Bittencourt, Isabela Torres, Marco Ricca, Suzana Ribeiro, Inês Peixoto, Teuda Bara e Maju Souza | Gênero: Drama | Nacionalidade: Brasil | Duração: 1h29min

• Filme assistido na 45ª edição do Festival de Cinema de Gramado 

2 comentários

  1. […] Bio é anunciado como um documentário impossível, mas a verdade é que se trata de um filme imaginativamente possível. Exibido nessa quinta-feira na 45ª edição do Festival de Cinema de Gramado, o longa do diretor Carlos Gerbase é narrado por 39 personagens que recordam acontecimentos que moldaram o caráter deste protagonista que vive apenas nas palavras ditas ao espectador e nunca é apresentado em cena. O mais interessante deste falso documentário é provocar o público a criar a sua própria opinião deste personagem sem nome, que nasceu de tabelinha e viveu por 101 anos na Terra. Não seria exagero em considerá-lo um dos melhores longas exibidos nesta semana no evento serrano que tem sua mostra encerrada nesta sexta-feira. Então não vou me acanhar e sim, vou classificá-lo como o meu segundo favorito do Festival, sendo o primeiro ainda com As Duas Irenes. […]

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