Escolhido para encerrar a semana de mostra competitiva de longas brasileiros na 45ª edição do Festival de Cinema de Gramado, Vergel soube ir a fundo em cada momento vivido por Camila Morgado. O marido da sua personagem morre durante as férias do casal na Argentina e devido a tamanha burocracia, ela tem que esperar vários trâmites legais para levar o corpo do amado de volta para o Brasil. Inicia aí, então, uma longa espera solitária que a fará perder noção da sua realidade e o silêncio perturbador da sua casa, tampouco, a ajudará a enfrentar este momento triste na sua vida.
Vergel retrata bastante sobre este período sombrio do luto em que a protagonista tem que, forçadamente, enfrentar. Enquanto busca explicações, e o público também, sobre a morte do marido, ela observa o cotidiano que segue normalmente, enquanto que ela, tem que seguir parada, em apenas um local, sendo impossibilitada de sair daquele sufocante e quente apartamento. Espaço que até em suas cores demonstra mais vida do que no corpo pálido e frágil da personagem de Camila. O único alívio que aparece na sua vida é a presença da vizinha que vai regar as plantas e que no final das contas, acaba “regando” literalmente a dor desta viúva que encontra nesta outra mulher o apoio emocional e sexual para tentar seguir em frente.
O longa dirigido por Kris Niklison é a coroação da mulher no cinema. Ao colocar a atriz Camila Morgado em várias cenas de nudez, sexo e masturbação, provoca o desafio de não objetificar o corpo feminino em cena. Ao contrário. O mais interessante é que não há julgamento e não coloca a protagonista em questionamentos sobre sua sexualidade. A relação com a vizinha, interpretada docilmente por Maricel Álvarez, não é, nem de longe, algo vulgar e gratuitamente pornográfico. A protagonista encontra ali o seu afeto e apoio para superar esta longa espera que a enlouquece. Com a vizinha, ela parece voltar a se encontrar como pessoa e se sentir viva. Ao contrário do que houve com seu marido. Assim, no encontro com outro ser humano, principalmente com outra mulher, com quem a personagem, de quem não sabemos nem o nome, pode voltar ao seu normal. Vergel é lindamente a superação desta loucura de viver a vida, sozinha.
• Filme assistido na 45ª edição do Festival de Cinema de Gramado
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