A época de férias para qualquer maníaco de séries e filmes é a melhor para colocar em dia tudo que estava atrasado. A verdade é que conseguimos cumprir apenas a metade da nossa lista durante este período de folga, mas para mim foi o suficiente para satisfazer meu desejo por cositas novas. Comecei com a série do momento, Os 13 Porquês, já que não se falava em outro assunto, resolvi ir junto com as marias. A história é narrada através das fitas que Hannah Baker (Katherine Langford) deixou para um pequeno grupo de ex-colegas do colégio em que relembra situações que motivaram o seu suicídio. Após ouvirem as fitas, elas foram repassadas para o último responsável da lista, Clay Jensen (Dylan Minnette) que acreditava ser amigo da jovem e também por quem ele era apaixonado. Aí já tem tudo que é preciso para despertar a curiosidade do espectador para saber as razões que levaram Hannah a tirar a própria vida e também porque Clay, um rapaz dócil, bonitinho e inofensivo, está nestas fitas.
Apesar de ter um tema urgente a ser discutido, Os 13 Porquês é uma série cheia de problemas narrativos e não consegue desenvolver a ideia proposta. A começar por tratar do tema do suicídio entre adolescentes como se fosse um assunto banal. É evidente o desconforto quando se fala na Hannah na escola, mas todos jogam o assunto para debaixo do tapete. Principalmente os envolvidos nas fitas. Claro, além de se sentirem culpados, não há um desenvolvimento mais didático ao decorrer da série. São diálogos extremamente superficiais e antiquados entre os personagens e que mostram totalmente a falta de conhecimento no tema. Não só dos personagens, mas também dos roteiristas. Como se apenas jogasse a bomba para o público e que fique por nossa conta o que fazer com aquilo.
Outra coisa que me incomodou foram as fitas de Hannah. O fato dela ter desabafado enquanto gravava as fitas poderiam tê-la ajudado neste período. Detalhe que ela mesma enfeitou os cassetes antes de entregá-la a Tony (Christian Navarro). Tipo, sério mesmo que isto aconteceu? Apontar os responsáveis pela sua morte é algo extremamente perigoso, pois além de deixá-los com sentimento de culpa, ela aparenta ter feito os áudios como forma de vingança para causar algum tipo de remorso em cada pessoa. O que também leva para segunda parte desta observação. Após ouvirem as fitas, nenhum dos ex-colegas mudaram de atitude ou aprenderam algo com o caso. Aí fica para Clay ser o justiceiro de Hannah nesta fase em que ouve as histórias em longos episódios de mais de 50 minutos e vai cobrar satisfações de cada “porquê”. Mas sinceramente, os capítulos não precisavam de tanta enrolação, assim como existem motivos sem consistência nas fitas. Colocar no mesmo nível um acidente de carro em que nem estava presente com um estupro, faz parecer que Hannah não tem um filtro algum sobre sua vida.
Existem fatos que ocorrem cotidianamente com outras pessoas, principalmente entre as mulheres que incomodam, deixam marcas e que nos perturbam, e a série conseguiu imprimir estes relatos delicados muito bem. Assim como na diversidade que existe no elenco. E o melhor, sem problematizações em cima disso. Há personagens negros, orientais, gays, casais inter-raciais e a própria Hannah é uma atriz fora dos padrões estéticos. Ela possui longos cabelos ondulados rebeldes, tem um corpo real e que me identifico muito. É possível se enxergar em pelo menos alguém na tela. Por isso acredito que este seja um dos motivos que muitos jovens adoram a série, pois há esta representatividade que tanto pedimos. Christian Navarro e Alisha Boe (que interpreta Jessica) são os meus atores preferidos na série. O primeiro, apesar de não entender muito a sua função na história, foge do esterótipo do galã latino e a segunda por ser a líder de torcida problemática e complexada que decepciona e surpreende a gente.
Os 13 Porquês é uma série que infelizmente não soube ter o tom, o jeito, as palavras certas para contar a história de uma suicida, mas vale o reconhecimento para a tentativa de abordar o assunto em uma plataforma tão popular como é a Netflix. Fico feliz que muitos procuraram ajuda após terem assistido a série. Mostrando que o debate é muito importante para época em que é muito fácil despertar um gatilho negativo. Claro, tem que ter muito cuidado para não fantasiar demais enquanto se assiste os capítulos. É preciso ter os pés no chão para não romantizar a história, pois estamos comprando a versão de apenas uma pessoa que não está mais aqui. Aí vem outro grande problema da série que é apenas mostrar o lado de Hannah na história e tampouco se importar com a imparcialidade e a credibilidade que ela fala tudo que viveu. Não é duvidando de uma garota morta, mas há pelo menos dois fatos que se contradizem com que Hannah relatou nas fitas. Acredito que este não é um caso que se deixa aberto a interpretação. E aí?
Os 13 Porquês também encerra a temporada de forma tão brusca que você aparece estar se afogando com os acontecimentos. Há demasiadas informações assim como não há conclusão alguma. Há questionamentos como de o por quê que o autor do estupro não estar na lista dos ouvintes das fitas? Onde estava a melhor amiga da Hannah qe nunca mais voltou? Além de existir um processo em aberto, tem um personagem em caso de vida ou morte, há possibilidade de um crime ocorrer a qualquer instante e a série termina com Clay tranquilamente passeando de carro com Tony. WTF???? Mas enfim, Os 13 Porquês poderia apresentar um fio de esperança no seu desfecho (apesar dos pesares) e não nos deixar mais angustiados com as memórias de uma jovem que mal tinha começado a vida.
Título Original: 13 Reasons Why | Criação: Brian Yorkey | Baseado no livro: 13 Reasons Why de Jay Asher | Elenco: Dylan Minnette, Katherine Langford, Christian Navarro, Justin Prentice, Miles Heizer, Devin Druid, Alisha Boe, Brandon Flynn, Ross Butler, Kate Walsh, Charlote Hervieux, Steven SIlver e Michele Selene Ang | Nacionalidade: Estados Unidos | Gênero: Drama | Duração: 1ª Temporada – 13 Episódios |