Anastasia Steele é uma estudante de literatura de 21 anos, recatada e virgem. Uma dia ela deve entrevistar para o jornal da faculdade o poderoso magnata Christian Grey. Nasce uma complexa relação entre ambos: com a descoberta amorosa e sexual, Anastasia conhece os prazeres do sadomasoquismo, tornando-se o objeto de submissão do sádico Grey. Fonte: AdoroCinema
Ou eu sou uma pessoa muito infantil ou 50 Tons de Cinza é ridiculamente cômico. Vamos pela segunda opção. Por uns cinco segundos acreditei que fosse exagero, tanto burburinho sobre o filme ser ruim, mas já dizia o ditado: a voz do povo é a voz de Deus. E esta voz tem razão. É um absurdo a tamanha imaginação sem fundamentos da direção de Sam Taylor-Johnson e o roteiro de Kelly Marcel, baseado no livro de E. J. James. Não é exagero e se você tem noção da vida e principalmente bom senso, vai concordar comigo quando os créditos subirem.
Anastasia “Ana” Steele (Dakota Johnson) é uma pacata jovem que está terminando a faculdade de literatura inglesa e tem a tarefa de entrevistar Christian Grey (Jamie Dornan), como um favor a colega de quarto “doente”. Vamos parar por aí né? (POR QUE RAIOS uma estudante de jornalismo vai pedir a uma amiga que nem jornalista é pra quebrar esse galho? É só ela o jornal, é isso?) Mas enfim, no momento em que batem os olhos, o casal já emana a tensão sexual que sempre existiu, desde que nasceram, seus laços foram traçados na maternidade. E a partir daí, são encontros (sem nenhum desencontro porque este é o mundo perfeito de Christian Grey onde tudo pode acontecer) que irão fazer com que este jovem magnata se envolva muito mais que sexualmente com esta menina obviamente atrapalhada, tímida e virgem.
Quando li o livro há muito tempo atrás, não parecia ser tão bobo a primeira vista, claro que o fato de ser um contrato de Dominador e Submissa e seus adventos sempre me incomodará, mas é só dar mais uma volta que aparecem mais coisas. É ridículo como a história se encaminha. Ana e Christian eram completamente céticos em suas decisões e de uma hora pra outra “foda-se o contrato”. Eu entendo que algum momento na minha vida irei abrir mão de algumas regras por causa de alguém, mas aqui é incompreensível por que ninguém me dá razão para tal. Não sinto borboletas no estômago e nem me causa tesão ver os dois juntos. Sem contar os diálogos: “eu não faço amor, eu fodo forte”, são frases que farão você pensar “isso é tão last week”. E é verdade quando dizem que Ana não foi forçada há nada e que foi se meter no quarto vermelho da dor por pura vontade própria, mas calma lá onde você está se metendo amiga, não é todo homem que é bonzinho que nem Grey e que o mundo aqui fora as coisas são MUITO diferentes. E como Ana é exceção nas regras de Grey, a ponto de fazer “sexo” sem ter assinado o acordo (classifico como várias amostras grátis) mostra como a fantasia do filme é surreal e nem é da maneira certa. Esse amor bipolar dos dois apenas nos deixa mais frustrados quando nem nos rostos dos atores vemos esta expressão de apaixonados danados.
Jamie Dornan é o playboy que nem tem 30 anos e já tem um império pra comandar. É um rapaz solitário e exótico que nunca se apaixonou e tem um passado muito misterioso (óoo). Mas não é fazendo cara de modelo de cueca o tempo todo que você irá me convencer dessa história, Jamie. Se nem ao menos nas cenas de ciúmes, ele é capaz de demonstrar que está incomodado, como vou acreditar no resto do filme? Com Ana consegui ter mais simpatia no decorrer da história. Dakota Johnson ao mesmo tempo que é essa menina pura, consegue ao menos nos enganar quando mostra para Grey que não é tão submissa assim quando com suas falas decoradas, de que ainda tem um pouco de livre arbítrio. E a voz mansa e quase sussurrando do casal me fez cair no sono, várias vezes. Tá e as tais cenas de sexo? O casal compensa? Não, amiga. O fato de o corpo de Dakota estar exposto em praticamente em todas as cenas mostra o tamanho machismo da indústria cinematográfica (eternamente um mal da vida) e a velocidade com que as ações acontecem faz com que tenha impressão de que é pra rolar tudo rápido pra acabar de uma vez. Não tendo mais que três minutos entre cortes e malandragens na montagem. Sabe aquela sensação que você tem ao assistir uma imagem de sexo com seus pais do lado? É bem por aí. Não é nada que lhe deixe boquiaberto como por exemplo em Azul é a cor mais quente, mas é bem provável que te deixe ilusório a pensar que sadomasoquismo é só vendar os olhos.
50 Tons de Cinza incomoda por completo. Se nem nas tão esperadas cenas de sexo, o filme consegue empolgar (saudades Lars Von Trier), posso afirmar de que a trilha sonora é o único triunfo da produção. Nomes como Beyoncé (e sua maravilhosa Crazy in Love 2.0), Sia e Ellie Goulding conseguiram dar suas versões suaves e sexys de suas músicas para embalar esse amor “sádico” de Christian e Ana. Mas o problema maior sempre será a base de onde foi inspirada. O livro é praticamente uma versão sexual da saga Crepúsculo e a própria autora admitiu que o romance de Edward e Bella foi sua maior inspiração para escrever a sua triologia, então já sabemos o motivo de ser tão brega e barato. Os valores que o filme/livro prega como o controle absoluto do homem sobre o corpo da mulher, e principalmente sobre a vida da mulher, são praticamente contos que nem no nosso imaginário é bem vindo. Claro, de uma percepção mais séria. É uma pena que seja causa de divertimento para algumas que nunca viram Os Sonhadores, Ata-me, Instinto Selvagem, Último tango em Paris, Lúcia e o Sexo, Pecados Íntimos, Ninfomaníaca I e II, Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, até O Segredo de Brokeback Mountain chega a ser mais erótico. Caso contrário, 50 Tons de Cinza é um bom entretenimento para quem precisa de um livro para o apoio de cabeceira.
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