Em Para’í, a cultura do povo Guarani é resgatada pelo olhar infantil

Pará questiona suas origens em Para’í. Foto: Divulgação

As salas de cinema receberam, em abril, a incrível história da menina Pará (Monique Ramos Ara Poty Mattos) que, após encontrar uma colorida espiga de avaxi para’i – milho tradicional do povo Guarani –, inicia uma caminhada em busca de sua própria identidade. Essa é a premissa do filme Para’í, do cineasta Vinicius Toro, realizado em colaboração com o Grupo Audiovisual da Terra Indígena (TI) Jaraguá, em São Paulo (SP).

“Nós queríamos contar uma história do dia a dia na aldeia, de como é a terra de Araranguá e como a cidade urbana chegou até esse lugar. Hoje não existe mais essa fronteira entre a cidade e a terra indígena. É um contexto complexo e cheio de desafios e, mesmo assim, a cultura do Guarani segue muito forte. E assim surgiu a ideia central de falar do milho tradicional deste povo sob a perspectiva infantil, onde as crianças pudessem compreender e se relacionar com o plantio, com a tecnologia, com a educação, mas sem fazer uma tese em cima disso”, contou o diretor em entrevista exclusiva para Cine Looou.

“Você já tinha visto um milho assim?” é a pergunta da protagonista vivida por Monique Ramos Ara Poty Mattos, uma garotinha que se encanta com a beleza do avaxi para’i e, com uma amiga, tenta cultivá-lo a todo custo. “O filme fala de uma realidade que questiona o preconceito e a visão muito primária que o não indígena tem sobre o indígena. Então o desafio era justamente trazer essa perspectiva interna de uma criança que questiona com delicadeza, mas sabendo que o mundo lá fora tem um uma ignorância muito forte. Achar essa medida foi o maior desafio do filme”, explicou Toro.

Aproximação com a cultura Guarani

A aproximação de Vinicius Toro com os povos indígenas começou em 2004, quando conheceu o escritor Manoel Munduruku em um evento e ouviu histórias que lhe marcaram profundamente e despertaram o seu interesse. Desde então, envolveu-se em oficinas e projetos artísticos com o povo Guarani em São Paulo. Lançar Para’í na semana em que se comemorou, oficialmente, o Dia dos Povos Indígenas, foi muito significativo para a produção.

“O movimento indígena se fortaleceu nos últimos tempos e não se deixou cair durante o governo anterior, pois foi articulando apoios internacionais para projetos que ficaram parados. Lançar o filme hoje me dá uma imensa alegria. Ele foi escrito em 2014, filmado em 2016 e, nesse tempo, mesmo em meio a essas trevas, o movimento se fortaleceu politicamente. Isso é importante”, disse.

Vinicius dirigiu Para’í em 2016. Foto: Divulgação

Segundo Vinicius, as trocas fulminantes de governos prejudicaram o cinema brasileiro nos últimos anos, mas, agora, a retomada do audiovisual está mais esperançosa.

“O cinema brasileiro passou por um grande vácuo. Eu senti isso na pele, mas entendo que estamos em um momento bom. Espero que tenhamos uma retomada de grandes investimentos para produzir de modo geral. Cada vez os editais procuram mais pluralidade de produções. Mas o grande problema que observo é que temos muita coisa produzida, mas acabam caindo no colo do mercado”, pontuou.

Então, para o futuro, o cineasta espera seguir com produções expressivas e significativas. “Tenho uma vontade de trazer questões políticas e pessoais. Eu não sei o que esperar da minha carreira no cinema, mas espero trazer essas questões que estejam pulsando para mim”, projetou.

Comente

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s