
Após marcar presença em festivais, entre eles o 50º Festival de Cinema de Gramado, A Porta ao Lado, de Julia Rezende, chega aos cinemas com um tema um tanto provocativo: a não-monogamia. Estrelado por Letícia Colin, Dan Ferreira, Bárbara Paz e Tulio Starling, o filme trata de lançar perguntas sobre os nossos próprios desejos dentro de um relacionamento.
Abordando temas como fidelidade, traição, amor e paixão, o filme traz a história do encontro dos casais Rafa (Ferreira) e Mari (Letícia), que vive um casamento monogâmico e estável, e Fred (Starling) e Isis (Bárbara), que mantém uma relação aberta. A proximidade com os novos vizinhos desperta em Mari uma série de desejos e dúvidas, e o encontro dos quatro faz com que todos repensem suas escolhas.
“O filme é mais do que dizer que a grama do vizinho é mais verde, mas de que é possível experimentar o amor de outro jeito, provocando o olhar para as nossas histórias e refletir como seria viver se fossemos escolher diferente”, provoca a diretora Julia Rezende em entrevista coletiva.

A Porta ao Lado nasceu após o lançamento de Ponte Aérea (2015), quando surgiu em Júlia a vontade de repetir a parceria com a atriz Letícia Colin. Ambas queriam levar às telas sobre como as pessoas estão vivendo os seus afetos nos dias de hoje.
“Não me interessava reproduzir um formato antigo de mulheres no cinema. A ideia não era ter uma relação que fosse de competição. Eu acredito que esse filme aponta para que as mulheres se tornem autônomas. A Mari (personagem de Letícia) tem ousadia e uma coragem de dizer sim para o próprio desejo. Eu amo muito esse lado dela. Isso é muito bonito e poderoso. A gente está fazendo cinema para fazer o mundo um lugar melhor”, afirmou Letícia.
O valor da verdade
Para Dan Ferreira, que vive Rafa, marido de Mari, a história também explora questionamentos pertinentes aos homens. “Ficamos apaixonados com nossos personagens. O desafio do Rafa é entender o que sente e expressar isso com clareza, sem o impedimento da subjetividade. É um filme interessante para os homens olhando para essas questões, para que sigam investigando e não repetir dogmas e estigmas do machismo. Foi um personagem que me fez ficar em alerta sobre o valor da verdade”, revelou.
Já Túlio Sterling tratou de interpretar com a mais pura ingenuidade o que o seu personagem Fred, com quem tem um relacionamento aberto com Isis, poderia viver. “O maior antídoto para não ser ‘esquerdomacho’ era esse: trazer honestidade com propósito. O Fred quer estar em sintonia com o mundo, com os espaços e com o agora. Busquei que isso fosse verdade. O filme provoca a vulnerabilidade e sensibilidade, sobre os machismos que eles, os homens da história, querendo ou não, acabam reproduzindo”, salientou.

Após um tempo se dedicando à produção e direção de projetos, a Porta ao Lado foi o primeiro trabalho de Bárbara Paz como atriz. No entanto, ela contou que nem por um segundo desligou o modo ‘contadora de história’ dentro de um set de filmagem. Ainda mais sendo dirigida por uma mulher.
“Você se sente segura porque é uma mulher na direção que vai entender as tuas fraquezas e diversas questões. Sempre foi um set acolhedor e protetor. Eu sou uma eterna aprendiz. Sou muito observadora e gosto muito de aprender sobre atuação, fotografia, cenografia, som, entre outros. Depois de tanto tempo como produtora e diretora, eu achava que ficava tudo muito ruim quando voltei a atuar”, brincou Bárbara.
Filmado durante a pandemia, A Porta ao Lado enfrentou obstáculos, mas todos superados pela coletividade da equipe. “Foi uma das primeiras produções a rodar durante aquela época obscura, em que tudo era incerto. Eu passei pela experiência de dirigir atores à distância direto do sofá da minha casa e isso só foi possível por essas pessoas. O cinema é coletivo e é saber dar a mão para quem vai segurar”, concluiu a diretora.