
Nada como uma investigação de um crime para unir a família. É assim a premissa de Os Bravos Nunca Se Calam, produção gaúcha que marca a estreia de Márcio Schoenardie como diretor de um longa-metragem, que acompanha Manoela (Duda Meneghetti) e Caio (Edu Mendas), dois irmãos distantes que decidem apurar as causas da morte do pai, o jornalista Joaquim Correia (José Rubens Chachá). O patriarca faleceu dias antes do lançamento do livro, que leva o mesmo nome do filme, que denuncia uma corrupção envolvendo a prefeitura de Santa Cecília, uma pequena cidade do interior onde se passa a história, autoridades, políticos e empresários.
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O que antes parecia apenas uma fatalidade ocasional se torna uma suspeita de um possível assassinato. Isso será o suficiente para instigar os irmãos a se unirem atrás de respostas e responsáveis pelo trágico fim do pai, com rastros e pistas, em meio a conspirações, ameaças e descobrindo que nem tudo é o que parece.
Humor típico gaúcho
Escrito por Gabriel Faccini, Tiago Rezende e Tomás Fleck – o trio responsável pelas séries Necrópolis e Alce & Alice – ambas licenciadas pela Netflix, Os Bravos Nunca Se Calam é um filme muito bem-humorado, irônico e, de certa forma, tem aquele clima de te fazer se sentir em casa. A relação entre Manoela e Caio será o fio condutor desta história que reúne os elementos básicos do gênero investigativo, mas sabe ter a sua própria personalidade. Resumindo: sendo gaúcha, é difícil não me sentir próxima desta aventura cinematográfica. Por isso, o longa trata de ser atual, especialmente em assuntos como corrupção política, o jornalismo como ferramenta de denúncia e o jeitinho individualista dos jovens de se importarem com o próprio umbigo. Pontos positivos. Contudo, é preciso apontar os negativos como a falta de profundidade e participação mais ativa da mãe, Ana (Mirna Spritzer), e pontas soltas como o passado de Manoela e o desconforto em retornar para a cidade natal.

A dupla de protagonistas possui uma ótima química em cena, demonstrando perfeitamente a relação conflituosa entre eles, com direito às famosas indiretas sobre o jeito de ser e as escolhas de vida de cada um, assim como a remodelação da conexão entre os irmãos que, com o passar dos dias em meio a teorias, descobertas e fugas pelas ruas do interior gaúcho, se torna a grande conquista da história. Além disso, o restante do elenco está tão afiado quanto os atores principais. Seja pelo tom cômico ou até mesmo pela energia caótica que a narrativa decide trilhar, o universo imaginário de Santa Cecília cai como uma luva para os demais personagens. Em destaque, José Rubens Chachá traz uma dramaticidade clássica, iniciando a jornada como os clássicos suspense: descrevendo a grandiosidade que acaba de escrever e o quão perigoso aquilo pode se tornar. Para, depois, ser convertido para um humor tipicamente gaúcho.

Divertido, Os Bravos Nunca se Calam se joga na ousadia de não ser perfeito e assumir as suas características própria como a regionalidade, as piadas e os clichês. Por seguir o passo a passo do gênero investigativo, o filme traça o seu objetivo familiar, reunindo os principais elementos com reviravoltas surpreendentes que, ou irão te causar ainda mais questionamentos ou, simplesmente, te provocar.