
Paloma é um conto de fadas em que o verdadeiro vilão, dessa história, é a realidade. Baseado em fatos reais, o diretor Marcelo Gomes, que também escreveu o roteiro ao lado de Armando Praça e Gustavo Campos, leu o caso por meio de um jornal, e se inspirou para contar nas telonas a história de Paloma (Kika Sena) que sonha em se casar, de modo tradicional, na igreja católica, com o seu namorado Zé (Ridson Reis). Eles já vivem juntos, e criam uma filha de 7 anos chamada Jenifer (Anita de Souza Macedo). O padre, porém, recusa o pedido, mas nem por isso a protagonista desistirá de realizar seu sonho. Porém, precisará enfrentar o preconceito e o conservadorismo para realizar esse seu desejo.
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O filme de Marcelo Gomes é romântico, é doce e é genuíno. Assim como a própria Paloma. De voz suave, generosa e, acima de tudo, carinhosa com todos à sua volta. Contudo, há sempre um detalhe que a traz de volta à realidade na qual vive. Ela comenta do seu desejo de se casar na igreja, como toda mulher, e logo vem uma resposta debochada. Apesar do empenho no trabalho, sempre ao lado das colegas, é alvo de perseguição do supervisor. E mesmo que mantenha um relacionamento aparentemente estável, o seu companheiro ainda reluta com a opinião pública. Então, são nessas pequenas violências cotidianas que os pés das protagonistas sentem de volta o chão da onde, segundo esses outros, ela nem deveria ter saído.
Importância de representar a singularidade

Contudo, Paloma é, inteiramente, de Kika Sena. A atriz se entrega de corpo e alma à esta linda personagem que sofre violência, traição, preconceito e injustiça, mas nada abala sua fé. É a nossa heroína que, mesmo entendendo o cenário onde habita, sabe que, assim como todos daquela pequena cidade rural, também tem os mesmos direitos de sonhar e realizar os seus sonhos. Kika tem uma desenvoltura emocional rara em cena, por conta de sua voz, sempre em melodia com a graça da sua personalidade, e também pela sua firmeza nas horas de combate. E o papel que Kika desempenha representa a importância de contar histórias trans singulares, fugindo de clichês e de caixinhas que insistem em enfiar personagens LGQTIA+, mostrando as particularidades que existem por aí.
Paloma é daqueles filmes que a gente torce a todo momento para que a heroína supere os obstáculos e conquiste os seus objetivos para que receba o amor e a felicidade o que merece. No entanto, sabemos que aqui fora, a história é outra. E, na maioria das vezes, o vilão existe em todo lugar.
Além de ter sido pré-selecionado para representar o Brasil em uma vaga no Oscar 2023, o longa foi consagrado como o Melhor Longa da mostra competitiva da Première Brasil do Festival do Rio de 2022, também levou os troféus de Melhor Atriz, para Kika Sena, e o Prêmio Félix, concedido a obras com temática LGBTQIA+. Estreia nos cinemas nesta quinta-feira nos cinemas nacionais.