
Uma vez eu brinquei que A Porta Ao Lado foi inspirado pelas efervescentes discussões sobre monogamia e não-monogamia do Twitter. Exibido na noite dessa terça feira dentro da Mostra Competitiva de Longas Metragens Brasileiros do 50º Festival de Cinema de Gramado, o filme dirigido por Júlia Rezende, contudo, fala sobre as escolhas que fazemos e as que deixamos os outros escolherem por nós ao longo da vida. É assim que podemos compreender Mari (Letícia Colin), uma chefe de cozinha que vive um relacionamento tradicional e estável com o empresário bem sucedido Rafa (Dan Ferreira). O casamento segue tranquilo até o dia que conhecem os novos vizinhos Isis (Bárbara Paz) e Fred (Túlio Starling), um casal definido por Mari como “moderninhos demais” e “desesperados por atenção” por viverem um relacionamento aberto, mas esse conceito acaba despertando desejos e dúvidas na personagem.
- Curta o post em @cinelooou
Por mais que A Porta Ao Lado seja impulsionado pela trama vivida pelos dois casais completamente opostos, o longa se concentra nos sentimentos contidos da jovem que sempre fugiu de compromissos e responsabilidades ao longo da sua vidinha convencional, mas que é sempre a primeira a julgar as decisões das pessoas na sua volta, especialmente ao que se refere às suas respectivas vidas afetivas, tema que é o ponto de partida do roteiro escrito por Patrícia Corso e LG Bayão. Mari poderia representar a falsa moralidade que existe internamente dentro de cada pessoa que foi educada sob os moldes da monogamia, defendendo com unhas e dentes, por acreditar ser assim o jeito certo de se relacionar. Mas, na verdade, a personagem apenas seguiu o padrão estabelecido universalmente, se deixando levar pelo momento. Uma cena que sintetiza tudo isso é, exatamente, quando Mari se vê vê sem opção a não ser voltar para a casa de Rafa quando não conseguiu “fugir”, no meio da madrugada, no dia em que se conheceram, o que deu início ao relacionamento deles.

Essa constante passividade presente na personagem é perturbada quando ela acompanha, de perto, um exemplo de matrimônio que vai em desacordo com o que acredita, provocando nela o maior tesão que o ser humano pode ter: o poder de escolha. Esse desejo, que estava adormecido, chega por conta da chegada de duas pessoas que a provocam mental e fisicamente, seja pelo jeito livremente espontâneo de Isis, firme em qualquer passo e opinião que dá, ou pela fácil sensualidade que Fred emite quando a confronta quando o assunto é sexo dentro e fora de um casamento. Rafa, por outro lado, transmite um conceito que Mari defende por ser algo que sempre conheceu, acreditando ser o jeito certo de viver, mas que, aos poucos, expõe como ela foi se deixando levar pelas decisões dos outros e, com isso, perdendo o desejo pela vida, preferindo se esconder do que dar a cara a tapa.
Quando digo que A Porta Ao Lado poderia ser, facilmente, inspirado em uma thread do Twitter sobre relacionamentos não é por provocação, mas por conta de ser cada vez mais presente essa discussão da não monogamia e, também, a prática entre os casais de novas gerações que adoram assumir essa escolha. Obviamente, relacionamentos abertos não são novidades, nem na nossa realidade e muito menos no cinema, mas Julia Rezende reacende o diálogo a respeito de que, independente da relação, qualquer uma terá as suas dificuldades, especialmente quando se trata de acordos entre os casais, assim como haverá amor. O tema da traição é subjetiva e A Porta Ao Lado coloca isso na roda sem ser moralista, mas enfatizando, acima de tudo, a necessidade da honestidade entre duas pessoas que se relacionam e do quanto querem estar juntas. Decisões que podem ou te libertar ou te fazer seguir em frente.
A Porta Ao Lado foi assistido no 50º Festival de Cinema de Gramado.
[…] marcar presença em festivais, entre eles o 50º Festival de Cinema de Gramado, A Porta ao Lado, de Julia Rezende, chega aos cinemas com um tema um tanto provocativo: a não monogamia. Estrelado […]
CurtirCurtir