Pacto Brutal – O Assassinato de Daniella Perez: o resgate de uma memória

Daniella com a mãe, Gloria Perez

Incompreensão. Foi assim que o ator Raul Gazolla, marido de Daniella Perez (1970-1992), definiu, em uma das entrevistas que concedeu na época do assassinato da esposa, a respeito do crime que é tema da minissérie documental Pacto Brutal – O Assassinato de Daniella Perez, lançada pela HBO Max. São diversos os sentimentos que a produção, dividida em cinco episódios, causa ao longo dos desdobramentos do caso que abalou o país inteiro por conta de se tratar de estrelas globais e, claro, pela espetacularização da mídia em cima dessa barbaridade que, até hoje, não permitiu alguma paz para a família da vítima. Em especial, a mãe dela, a autora Gloria Perez, que corajosamente reviveu o caso para o documentário que tirou a vida da sua filha há 30 anos, e divide com o público tudo o que coletou diante da investigação da noite da morte, da apuração que fez para coletar assinaturas para mudar a legislação brasileira, da sua luta para defender, a qualquer custo, a memória da sua filha que, mesmo depois de morta, ainda era alvo de ataques bizarros e vandalismos.

Gloria lutou para defender a sua filha

Dirigido por Guto Barra e Tatiana Issa, a minissérie tem a difícil missão de contar uma história popularmente conhecida que, volta e meia, era sempre relembrada em pautas relacionadas a mortes trágicas de famosos, e ainda assim chamar a atenção em uma época que o gênero true crimes é tendência em streamings e em outros meios de “entretenimento”. Mas a dupla de diretores consegue triunfar ao reunir pautas relevantes como o machismo estrutural, a culpabilização da vítima, a fragilidade da legislação brasileira, o sensacionalismo da mídia e, claro, a rápida liberdade concedida aos assassinos. Entre os cinco episódios, Pacto Brutal se debruça em cada tópico com depoimentos riquíssimos de informações de especialistas em suas determinadas áreas conforme acompanhamos as falas de Gloria costurando a trágica narrativa que a acompanha desde o dia 28 de dezembro de 1992.

Direito de defesa da vítima

No entanto, é preciso enfatizar a importância de Pacto Brutal para resgatar a imagem de Daniella Perez, além dessa mancha na sua história. É por meio de depoimentos de amigos, familiares, colegas de trabalho e até mesmo alguns fãs, que conhecemos um pouco dessa doce menina de apenas 22 anos que vivia a melhor fase da sua vida. Casada e cheia de planos, Dani era considerada a namoradinha do Brasil, a estrela em ascensão, que emanava uma energia irresistível e dona de um carisma sem igual. Era assim que as pessoas lembravam dela e é assim, pelo menos para mim, que fica a impressão diante de tantos depoimentos emocionantes e repletos de saudades. Não é difícil imaginar o motivo pelo qual o seu velório reuniu multidões, com exceção dos curiosos, na intenção de se despedir da artista. Por isso, a minissérie se tornou uma das melhores do gênero na atualidade por dar espaço para que se resgate a humanidade da Daniella na tentativa, que é quase impossível, de dissociá-la desse crime cruel, retratando como ela deveria ser lembrada: pela sua bondade, pela sua generosidade e, principalmente, pela sua alegria de viver. Nisso, pode-se dizer que a Gloria pode ter alguma espécie de vitória.

Raul traz memórias muito bonitas com Daniella

Pacto Brutal – O Assassinato de Daniella Perez é uma minissérie pesada, difícil e revoltante de se assistir. Por meio dela, temos consciência de furos e falhas inexplicáveis de “sistemas” que funcionam a base de dinheiro, audiências e ganâncias, essa última sendo o estopim dessa tragédia. Apesar de realizada sucessivamente, Pacto Brutal nos deixa com a sensação de derrota, de injustiça e de indignação. Não há imaginação suficiente para entender a dor que é assistir os assassinos de uma pessoa querida ter uma segunda chance e ela não, assim como de não ter o direito de passar decentemente por um luto e, desde então, não ter tido mais plenitude na vida. Infelizmente, essa é a nossa sociedade. 

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