
Entre as minhas metas cinéfilas para 2022 está ser menos resistente a alguns gêneros do cinema. Como, por exemplo, o terror. Aproveitando o embalo da estreia do quinto filme de Pânico, resolvi fazer uma maratona da saga criada pelo produtor Wes Craven (1939-2015). Os dois primeiros, lançados em 1996 e 1997, são obras-primas. Eu já tinha os assistido quando era criança (?), mas não lembrava de quase nada. Então, a experiência de assisti-los novamente pareceu inédita. E adorei perceber elementos que, obviamente, não entenderia naquela época.
Ao mesmo tempo que Pânico se define como um slasher, ele também não se leva a sério ao permitir que Ghostface, o assassino da franquia, não seja o criminoso perfeito. Apesar de ser muito esperto, o “vilão” se atrapalha, cai, apanha, entre outros, podendo até mesmo ser confundindo com o personagem caricato do besteirol Todo Mundo em Pânico, que também ganhou uma série de filmes posteriormente. Mas este clima logo acaba quando o seu alvo recebe a famosa ligação seguida de uma facada bem dada.

Além disso, Pânico também se destaca por não permitir que Sidney Presscott (Neve Campbell) seja apenas a mocinha da história. Ao reverter o papel de vítima para heroína, o filme promove um empoderamento feminino inédito no cinema dos anos 1990 em que a protagonista não é sexualizada e nem as demais personagens femininas, tampouco usa roupas sensuais e está a todo instante enfrentando o seu inimigo. Ou melhor, seus vários inimigos. E ah, claro, sem esquecer do seu ex-desafeto Gale Weathers (Courteney Cox), que está sempre ao seu lado para desvendar os mistérios de Woodsboro. Independente do que aconteça, a verdade é que uma não estaria viva sem a outra.
Pânico 3 (2000) é o menos favorito da maioria dos fãs da saga. Isso é um fato. Um dos motivos é pela ausência de Kevin Williamson como roteirista, deixando a função para Ehren Kruger. Apesar da essência da saga Pânico estar ali, o longa parece ter perdido o fôlego após dois sucessos consecutivos, e a conclusão desta primeira trilogia não é das mais coerentes e muito menos satisfatória. Já Pânico 4 (2011), que conta com a volta de Kevin Williamson, chega 11 anos depois reacendendo a chama deixada no início dos anos 2000. Ao se atualizar em pautas da época, o filme soube aproveitar a obsessão da fama que a internet proporciona para transformar isto em combustível para que Ghostface volte a aterrorizar a cidade natal de Sidney Presscott, que parece nunca ter paz.

Agora, Pânico 5 (2022) também bebe desta mesma fonte de se ligar no que está acontecendo no mundo para mexer em algumas peças do tabuleiro. A introdução de novos personagens, na expectativa de prolongar ainda mais esta nova trilogia que talvez esteja se formando, remete ao grupo original do primeiro filme, tornando-os peritos nas regras do gênero do terror, o que faz com que qualquer um seja suspeito a todo instante. Já que a famosa frase da saga nunca nos deixa esquecer que “sempre pode ser alguém que você conhece”, agora, a gente quer saber o por quê daquela pessoa assumir o papel de Ghostface. Neste lançamento, a verdade é que os fãs sairão correspondidos, mas também vão levar um puxão de orelha. Se anteriormente, a saga recorreu a forma como consumimos a internet, desta vez é a hora de criticar o extremismo que algumas pessoas podem atingir escondidas atrás de uma tela, mostrando um roteiro que não tem medo de cutucar quem está assistindo.
Dirigido por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillet, Pânico 5 é tudo o que se espera de um filme da saga, por isso, tudo o que se conhece deste universo, estará lá, e isso não é necessariamente algo negativo. A metalinguagem, os personagens clássicos, a longa introdução, as regras dos filmes de terror e, é claro, Sidney Presscott, são figurinhas carimbadas. Porém, assim como aconteceu em alguns outros longas, desta vez, Sidney não será o foco, mas as irmãs Sam (Melissa Barrera) e Tara Carpenter (Jenna Ortega). O mistério que envolve a primeira será o estopim para que o passado volte à tona para todos, especialmente para a nossa final girl original que, assim como nós, também vai usufruir desta nostalgia. Por conhecer bem a sua trajetória, Pânico 5 não mexe no time que está ganhando, apenas chama mais pessoas para jogar com ele, fazendo com que os fãs saiam vibrando com a matança que todos adoram revisitar.