A busca pela sobrevivência em 7 Prisioneiros

Rodrigo Santoro e Christian Malheiros têm papéis complexos em 7 Prisioneiros

Quando entrevistei Christian Malheiros, ele contou que sempre humaniza os personagens que interpreta. Além de refletir os lugares que os seus papéis acessam, e não o julgamento deles. Em 7 Prisioneiros, o ator faz exatamente isso. Matheus (Malheiros) é um jovem que sai do interior de São Paulo em busca de um emprego na capital paulista para poder sustentar a mãe e as duas irmãs. Matheus é o homem da casa, por isso, sabe a responsabilidade de ser o provedor e o protetor daquele humilde lar. Esses poucos minutos com a família já demonstram como ele lidará com seus conflitos futuros.

Dirigido por Alexandre Moratto, o filme 7 Prisioneiros é sobre escolhas que definem uma vida. Este é um peso que o protagonista precisa lidar a partir do momento em que descobre que tanto ele quanto seus companheiros acabaram caindo em uma rede de trabalho escravo, tornando-se mãos de obras baratas em um ferro velho completamente precário e desumano. Cada passo ali dentro é uma busca pela sobrevivência e não é só de quem está ali dentro, mas também das famílias que nada sabem do paradeiro de seus filhos, irmãos e netos. Por isso, Matheus usa da razão para lidar com Luca (Rodrigo Santoro), o chefe daquele esquema, pois sabe das consequências fatais que podem atingir a sua família e as dos seus colegas de cela.

7 Prisioneiros não é um filme fácil e tampouco procura fazer justiça poética, visto que o trabalho escravo é um problema universal e está longe de ter uma solução. Conduzido inteiramente pelo ponto de vista de Matheus, a história mostra como cada lado que ele escolher, sempre parecerá que está do lado errado. Isso se deve a sua associação com Luca, quando o jovem decide fingir que está do lado do “vilão”, mas aos poucos, ao entender como funciona aquele sistema corrupto, percebe que não importa o caminho que escolha, ele estará sempre preso. Por isso que a ampliação do personagem de Rodrigo Santoro na narrativa é importante por contextualizar que aquele pequeno ferro velho faz parte de algo muito maior do que se pensa e quem faz parte desta rede, sabe muito bem o que está fazendo. E por mais que o recorte se passe em São Paulo, esse caso poderia acontecer em qualquer lugar do mundo sob o nariz de muita gente.

Rodrigo Santoro que me perdoe, mas este filme é inteiramente de Christian Malheiros. Desde seus primeiros minutos até a última cena, o ator carrega uma vulnerabilidade impressionante devido ao senso de acolhimento e a preocupação pelo certo. Os conflitos morais do personagem são perceptíveis a partir da forma racional, mas sem perder a humanidade, como Malheiros trata Matheus. Isso só é possível quando o papel cai em mãos certas. É admirável como o ator tem escolhido trabalhos que tragam uma certa complexidade interna nos seus personagens. O filme Sócrates, também dirigido por Moratto, e as séries Sessão de Terapia e Sintonia são exemplos corajosos de alguém que não quer papéis fáceis. Santoro também está excelente em 7 Prisioneiros. De longe, o seu papel mais desprezível, porém com camadas que se encaixam perfeitamente à narrativa.

Ao contrário do que aconteceu em Marighella, quanto mais eu penso em 7 Prisioneiros, mais eu gosto dele. Até mesmo o ferro velho simboliza o descarte e a prisão daquelas pessoas consideradas rejeitáveis pela sociedade. Alexandre Moratto alia a exposição de um problema universal com o conflito moral de alguém que só quer sobreviver. 

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