
Em Cidade Pássaro, Amadi (O.C. Ukeje) é um músico nigeriano que chega a São Paulo para tentar encontrar o seu irmão Ikenna (Chukwudi Iwuji), que parou mandar notícias para a sua família na Nigéria. Amadi, que sempre foi descontraído e despreocupado, se envolveu neste caso porque teme que o posto de irmão mais velho seja passado para ele, pois o mesmo teria de se tornar responsável e prover o sustento da família.
Dirigido por Matias Mariani, Cidade Pássaro é uma crônica urbana sobre ir em busca de quem se ama ao mesmo tempo que é uma jornada de descoberta da sua própria liberdade. O filme carrega a essência “detetive” de ser ao colocar Amadi atrás do irmão desaparecido e, como se já não fosse difícil, sem falar uma palavra de português em uma cidade tomada pela diversidade de culturas, línguas, estilos e rotinas. Mas isso não são empecilhos para ele visto que a jornada de Amadi também absorve os ambientes e pessoas que Ikenna passou e marcou com as suas ideias.
O filme coloca a cidade de São Paulo sob o ponto de vista de imigrantes nigerianos que vêm ao Brasil em busca de oportunidades. E, para quem nunca visitou a capital paulista, a sensação é de que ela, a qualquer momento, pode te engolir com tamanha a sua grandeza. É a sensação que o diretor de fotografia de Léo Bittencourt constrói ao longo de Cidade Pássaro: estamos perdidos, mas sabemos que temos que nos virar, nos nos encontrar de alguma forma. E não é apenas em ambientes externos que o longa dialoga, mas também quando estamos escondidos em algum canto particular de Amadi, enquanto este tenta refletir sobre o seu papel nesta busca pelo irmão mais velho, assim como o seu próprio papel na sua família que não o vê maduro ou inteligente o suficiente para ser o principal chefe da casa. São estes pesos que ele precisa lidar longe de casa.
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Este mesmo sentimento de ser consumido pela cidade também pode se alinhar com esta cultura universal do patriarcalismo. Será que tanta pressão e responsabilidades podem ter despertado em Ikenna a vontade de desaparecer e não cumprir as expectativas da família? Se mudar para outro país era o único jeito de poder ser independente e criar uma individualidade? Enquanto Amadi reconhece que a sua verdadeira missão não é resgatar o seu irmão, mas a própria libertação, Cidade Pássaro cresce e, assim como o protagonista, sai das jaulas em que lhe foi imposto para, finalmente, voar com as suas próprias asas. O filme está disponível na Netflix.