Mulheres na Geladeira: como o termo se aplica em Cidade Invisível

O conceito Mulheres na Geladeira foi criado pela escritora Gail Simone após ela notar um padrão nas histórias em quadrinhos de super-heróis em que consiste na morte de personagens femininas para motivar os personagens masculinos a terem um objetivo dentro da narrativa. Logo, o homem acaba tornando aquela tragédia sobre si mesmo. O termo foi inspirado no quadrinho #54 do Lanterna Verde. Na história, ele volta para casa um belo dia e encontra a namorada morta e enfiada dentro da geladeira.

Em Cidade Invisível, série brasileira original da Netflix, é toda baseada no conceito da Mulher na Geladeira. No primeiro episódio, uma tragédia tira a vida de Gabriela (Julia Konrad), uma antropóloga e ambientalista que trabalha em uma comunidade ribeirinha em uma cidade vizinha do Rio de Janeiro. A misteriosa morte da personagem motiva o marido dela, o detetive Eric (Marco Pigossi), a investigar as causas e também quem a matou.

Ao longo dos sete episódios, as buscas por respostas se intercalam com a cultura do folclore brasileiro, que eram do interesse de Gabriela. Eric mergulha no universo dela, mas, enquanto a esposa era viva, ele não demonstrava interesse nestes assuntos e ainda duvidava deles. Cidade Invisível é sobre alguém que não está viva dentro da história. A série constantemente mostra flashbacks da falecida em momentos de felicidade, de saudade e, obviamente, em momentos chaves para a investigação.

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É claro que não poderia faltar cenas de Eric desabafando como não sabe viver ou fazer tarefas banais, como cuidar da filha pequena, sem a presença de Gabriela. E quem aparece para ajudar nas tarefas domésticas? Sim, outra mulher: a avó dele. Além de envolver outras pessoas na investigação, que virou motivo pessoal para Eric, o protagonista descobre que suas origens estão relacionadas com a cultura folclórica e ainda se torna o herói ao salvar a comunidade ribeirinha que sua esposa tanto defendia no passado.

Cidade Invisível abraça fortemente o conceito da Mulher na Geladeira ao usar a morte da esposa do protagonista para mover a história e dar a ele uma motivação pessoal. No final, Eric soluciona o caso, mas usa esta investigação um modo de se tornar o herói da trama, já que percebe que tem muita coisa em comum com o universo que sua esposa gostava e trabalhava. Com uma 2ª temporada confirmada, espera-se que a série possa evoluir e corrigir erros como a falta de representatividade indígena, o mal uso da cultura do folclore e, quem sabe, não girar tudo em torno de um homem hétero branco.

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