O Cine Looou agora tem um novo quadro de entrevistas com pessoas envolvidas com o Cinema. A ideia é trazer profissionais da área para uma conversa sobre esta arte que amamos. Convidei a roteirista e diretora Mariani Ferreira para ser a primeira participante desta empreitada. A gaúcha está com o curta-metragem Rota dentro da Mostra Competitiva de Curtas Gaúchos no 49º Festival de Cinema de Gramado. Aproveitando que o evento segue até o dia 21 de agosto, nada melhor do que conversar com a jovem cineasta.

Uma filha. Um pai. Algumas gravações antigas. A esperança de reconciliação. Esta é a sinopse de Rota, segundo curta-metragem dirigido por Mariani Ferreira, 32 anos, cineasta gaúcha que faz a sua estreia no 49º Festival de Cinema de Gramado com um filme dentro da Mostra Competitiva de Curtas Gaúchos. Escrito por Jackson Moura e contemplado pelo edital Aldir Blanc, Rota foi filmado à distância durante a pandemia em São Leopoldo. “Era uma logística muito complicada para a nossa realidade, mas a gente decidiu filmar dessa forma. O roteiro do Jackson, um jovem roteirista preto, é muito interessante porque conta uma história singela, deste pai e desta filha tentando se reconectar. É um filme feito com simplicidade e sinceridade”, contou
Mariani é uma das 19 diretoras mulheres que estão com algum filme em competição no Festival de Gramado de 2021. Para ela, que já esteve com um outro longa no evento, mas em outras funções, ter este reconhecimento em um espaço que é uma referência para cineastas gaúchos é muito emocionante. “Quem começa a fazer cinema no Rio Grande do Sul tem essa mítica de ter um filme sendo exibido no Festival. Então é muito bacana! Para o Jackson também é interessante porque é o primeiro roteiro dele e já está no Festival”, comemorou. Rota pode ser visto no Canal Brasil e na Globoplay até dia 21 de agosto.
Segundo Mariani, o espaço de um festival permite trocas entre realizadores e público, e o fato deste ano o Festival de Gramado ser transmitido pela TV e pela internet, democratiza um pouco o acesso para quem não poderia ir até o evento serrano acompanhar a programação presencialmente. Mas ela ressalta a importância da diversidade que o Festival teve nesta edição.
“Esta é a primeira vez que duas mulheres negras estão na Mostra de Curtas gaúchos, isso é muito importante. Eu lembro que em 2017, fiquei apavorada porque não tinha representatividade, especialmente nesta Mostra, nem de mulheres, nem de pessoas negras. E parecia que era algo que não incomodava tanto as pessoas”, criticou. “Mas tem sido feito um trabalho de mobilização da própria sociedade civil, de coletivos como o Macumba Lab, de profissionais e a própria organização do festival. Tem que começar a atentar para a realidade, o que torna ainda mais interessante os festivais”, completou.
A paixão por contar histórias
Antes de seguir na carreira no cinema, Mariani se formou em Jornalismo e ali, começou a exercer a função de crítica de cinema. Mas, contar histórias precisava ir um pouco mais além para a jovem. “Eu sempre fui apaixonada por histórias e sempre quis trabalhar contando elas”, afirmou. Em 2015, lançou seu primeiro curta-metragem, Léo, que conta a história de Rodrigo, que não aceita a homossexualidade do irmão caçula. Por conta disso, terá que sofrer as consequências de seus atos.
A partir daí, ela não parou mais. Foi assistente de direção em alguns curtas de ficção e documentários, escreveu roteiros em produções como O Caso do Homem Errado (2017), de Camila de Moraes, onde também atuou como produtora, para as séries Necrópolis (2019), disponível na Netflix, e para O Complexo (2021), disponível na Globoplay. E ela já está com outras obras para o futuro. “Em 2022 vão estrear duas séries, a primeira é dirigida por mim, que é uma animação, chamada Histórias Atrás da Porta, produzida pela Bactérias Filmes, e a outra é um drama histórico, Filhos da Liberdade, que fui roteirista”, disse.

Já citado aqui, Mariani também participa do Macumba Lab, coletivo de profissionais negres do audiovisual do Rio Grande do Sul. O grupo é uma ferramenta para a visibilidade e acesso ao mercado e se propõe a criar laboratórios de formação para pessoas negras, democratizando o acesso às técnicas e ciências audiovisuais.
Entre as suas principais referências no cinema, a diretora cita Glenda Nicácio, que fez Café com Canela, Renata Martins, uma realizadora de São Paulo responsável pelo curta-metragem Sem Asas e o pessoal da produtora Filmes de Plástico. “São realizadores pretos, são realizadores periféricos, e o tipo de cinema que eles fazem, de histórias que eles contam, eu me sinto muito inspirada. É o tipo de cinema que eu gostaria de fazer”, afirmou. Além deles, ela ainda menciona os diretores estadunidenses Jordan Peele, Barry Jenkins e Ava DuVernay.
Antes de realizar tudo isso, Mariani acreditava que viver de cinema era um sonho distante e impossível. “O cinema cria esta nova possibilidade de existência, de eu existir no mundo. Começa pela possibilidade de sonhar e criar um mundo que não existe à minha volta e depois acaba se tornando esse sonho possível. Cresci em periferias de cidades pequenas e olhando onde estou agora, toda esta trajetória foi possível por causa do cinema.”
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