Alice Júnior: um filme necessário para todos os públicos

Anne Mota é Alice Júnior, uma menina que se muda de Recife para o Sul do Brasil

Em Alice Júnior, Alice (Anne Mota) é uma adolescente trans cheia de carisma que investe seu tempo fazendo vídeos para o Youtube. Um dia, seu pai é transferido pela empresa que trabalha no Recife para Araucárias do Sul, e eles precisam se mudar. Na nova escola, Alice enfrenta preconceitos ao se deparar com uma sociedade mais retrógrada do que estava acostumada. O desejo da menina é dar seu primeiro beijo, mas, antes de tudo, quer o direito de ser quem ela é.

Alice Júnior é um filme necessário para todos os públicos. Além de retratar algumas questões da comunidade trans para o pessoal cisgênero, o longa, dirigido por Gil Baroni, faz com que meninas transgêneros possam protagonizar uma fábula juvenil nas telas. É importante que uma minoria, especialmente as que sempre foram marginalizadas, tenha o seu momento de reverter a opressão sofrida e possa simplesmente contar outras histórias e, principalmente, ter um final feliz no cinema.

Apesar das adversidades, Alice encontra amigos que lhe apoiam

O filme mescla a diversão com informação, mas nada que se torne algo didático antiquado. Por causa da simpatia de Alice, o longa mantém uma energia contagiante típica de adolescente. Tem elementos interativos, que torna o filme fofo, e personagens caricatos, como aqueles postos como vilões do enredo e outros como os esquisitões, o sonhado príncipe encantado e a melhor amiga maluquinha. Alice Júnior cumpre os requisitos do gênero juvenil de forma muito natural. No entanto, outras companhias fundamentais para a jornada de Alice acabaram sendo muito mal aproveitadas, como são os casos das outras amigas trans da protagonista. Mais importante do que Alice ser uma representante trans em uma história dominada por héteros cis é a inserção mais relevante de personagens que entendam, de fato, os conflitos pessoais de Alice. A representatividade precisa ser maior do que apenas uma pessoa, não é mesmo?

Anne Mota é quem dá vida a Alice. Com uma energia contagiante, a atriz transmite muita alegria em suas cenas, deixando o clima sempre leve, assim como dá conta da seriedade nos momentos mais tensos, quando tem que enfrentar a transfobia de muitos ao seu redor. Infelizmente, os preconceitos ainda são muito reais na vida da comunidade trans e não ficaram de fora neste filme. É uma forma de mostrar que a violência ainda existe em tudo que é lugar, especialmente no Brasil, onde o assassinatos de transgêneros só aumenta, e do quanto é importante que a rede de apoio esteja presente nestas situações para reforçar que Alice e outras meninas não estão sozinha. Alice Júnior é tudo o que um filme adolescente deve ser: moderno, colorido e pronto para trans-formar o mundo!

O filme teve sua première nacional em setembro de 2019, durante o Festival de Vitória. Depois foi exibido durante a “Mostra Première Brasil: Geração”, do 21º Festival do Rio, durante o qual venceu os prêmios Felix por melhor direção e Júri Popular (Geração). A sua estreia internacional ocorreu em fevereiro de 2020, durante o Festival Internacional de Cinema de Berlim. E agora está disponível na Netflix.

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