Pequenos Incêndios Por Toda Parte discute o que é maternidade e expõe as várias camadas do racismo

Pequenos Incêndios Por Toda Parte é uma minissérie para refletir sobre muitos assuntos que nos rodeiam. Baseado no romance homônimo de Celeste Ng, a produção tem assinatura de Reese Whiterspoon e Kerry Washington, que protagonizam o drama que discute o que é maternidade e expõe as várias camadas do racismo na sociedade.

Somos introduzidos ao cotidiano aparentemente perfeito da família Richardason, liderado e controlado por Elena (Reese), que segue fielmente o plano de vida que lhe foi ensinado como tinha que ser: marido bem-sucedido, filhos educados e esbeltos, e ela, uma esposa dedicada ao lar, mas que no fundo, também desejava uma carreira de sucesso no jornalismo. O único porém nisso tudo é a filha caçula, Izzy (Megan Stott), que a confronta desde do dia que nasceu e, por isso, vivem um eterno conflito de sentimentos e valores.

Elena e Mia se envolvem em muitos conflitos

Mas, a rotina da família muda com a chegada de Mia (Kerry) e Pearl Warren (Lexi Underwood), carregando tudo o que tem dentro de um Chevette. Se no primeiro momento Elena teme a presença das forasteiras, logo resolve se livrar da culpa ajudando Mia a se instalar no bairro – de classe média alta predominantemente branca – onde mora. Claro que o mistério em volta de Mia, e outros desdobramentos que lhe desagradam, provoca em Elena um instinto vingativo e, com isso, desperta aquela repórter frustrada no passado com o objetivo de expor Mia e seus segredos.

Maternidade e racismo

Os oitos episódios de Pequenos Incêndios são recheados de informações, metáforas, críticas e sutilezas que enriquecem toda a trama. A história se importa em mostrar a construção pessoal de cada protagonista e como se tornaram quem são no presente, o que nos faz compreender a jornada e as decisões que tomaram ao longo da sua vida. O conflito central, que vai “incendiar” a relação, vai tocar no ponto fraco das duas: a maternidade.

A briga judicial pela guarda de May Ling, bebê que foi abandonado por Bebe Chow (Lu Hang), amiga de Mia, por não ter mais condições de sustentá-la, traz discussões sobre o papel de uma mãe, que é a primeira a sofrer os julgamentos sobre a forma como cria e educa os filhos.

Tudo muda quando Bebe encontra sua filha

O interessante é que a minissérie não estaciona somente neste tópico. A gravidez de Mia e o tratamento diferenciado que Izzy recebe de Elena também são pontos para se refletir a maternidade que vão desde a geração de um filho, o afeto que se encontra fora de casa, o controle e liberdade que se dá os filhos ao questionamento de que mãe é quem gera ou quem cria? Faíscas prontas para serem incendiadas (rsrs).

Além disso, Pequenos Incêndios mostra o racismo que está nas sutilezas do nosso cotidiano e internalizado em nós. Elena adota a linha do politicamente correto quando resolve se posicionar em relação aos negros, mas nada passa de aparência já que, lá no fundo, ainda os limita aos estereótipos.

Um exemplo disso é quando ela apresenta o genro Brian Harlins (Stevonte Hart), um estudante negro, a Pearl e diz que eles têm muito em comum, sendo que o jovem é um atleta que gosta de rap e a menina gosta de poesia e Spice Girls.

Dona de casa rica e justiceira virou a marca de Reese

Fora que a dona de casa insiste nas autoafirmações para se convencer e convencer aos outros de que não é racista. E isso não se aplica somente a Elena, já que sua filha Lexie (Jade Pettyjohn), além de ser uma cópia sua, se apropria da história e do nome de Pearl, literalmente, para poder se beneficiar. A família Richardson é o mais perfeito exemplo que o racismo é repassado de geração em geração e que é preciso quebrar este ciclo urgentemente.

Pequenos Incêndios evidencia a todo momento os privilégios dos brancos e como eles se orgulham das suas conquistas. E até reclamam quando não há dificuldades para serem tema de uma redação. Talvez nós, brancos, não reconhecemos a diferença que 70 centavos fazem na nossa vida, mas a minissérie vai mostrar que isto foi até motivo para separar mãe e filha.

Sorriso que se desmancha 

Reese Whiterspoon novamente agarra um papel que parece que nasceu para ser seu: o de dona de casa rica controladora que quer ajudar a mãe solteira do bairro. Algo muito parecido com o que vimos recentemente em Big Little Lies. Mas em Pequenos Incêndios, Elena é a sua melhor interpretação do estilo por ser muito mais aprofundado e elaborado. Além de todo ódio e implicância que a gente sente quando ela é confrontada.

O mesmo pode se dizer de Kerry Washington. A atriz tem uma marca que é simbólica: o sorriso que se desmancha. E esta característica sempre revela muito o que a personagem está sentindo sem precisar falar mais nada.

O mais incrível ainda é a sua Mia mais jovem, interpretada por Tiffany Boone, que conseguiu adotar não só este sorriso, mas todos os jeitos de Kerry e tornou Mia ainda mais completa. Personagem de Kerry é daqueles que a gente ama desvendar por causa da sua complexidade, a sua criatividade e um afeto que é também fácil de sentir do outro lado da tela.

Esta minissérie é toda de Kerry

Pequenos Incêndios Por Toda Parte é uma minissérie que se aprofunda ao que se propõe a debater, entrega os fragmentos para que se tornem tópicos de reflexão e torna a experiência empolgante. Com uma história instigante, com conflitos e embates deliciosos, a produção já virou a minha favorita do ano. A minissérie está disponível no Amazon Prime Video.

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