
A quarentena tem sido um momento para assistir e tirar atraso de muita série que está parada numa fila, não é mesmo? Aproveitando este período, eu decidi consumir uma série por vez, o que ajuda muito a manter o foco e o ritmo da história, além de ser um bom exercício para tirar aquela cobrança desnecessária de que não estou assistindo tudo o que gostaria. Uma série por vez, certo?
Comecei Succession há duas semanas e foi uma maratona intensa desta série maravilhosa. Vencedora do Globo de Ouro, Emmy’s e Critic’s Choice Awards, Succession não possui nada de novo no formato e história, mas tem uma trama envolvente em que mostra não só como o dinheiro sempre vai falar mais alto, como o poder é algo difícil de conquistar, assim como não é fácil passá-la adiante.
Uma família que briga pela liderança de uma empresa milionária não é nenhuma novidade. O mais recente exemplo é a série musical Empire, onde os três filhos disputam quem vai ser o dono de uma grande gravadora de música. Em Succession, os filhos do insuperável Logan Roy (Brian Cox) têm sangue nos olhos para colocar as mãos na Waystar Royco, um conglomerado internacional da mídia. Apesar de Logan ter quatro filhos, apenas três mostram-se dispostos a trair, enganar e fazer o que for preciso para mostrar que merecem a confiança do pai.

Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culky) querem assumir o “trono” por suas razões que vão desde do merecimento, a escolha certa, a escolha sensata e até mesmo pela falta de opção. Kendall é o mais indicado a suceder o pai, mas a ganância e a pressa de renovar a imagem da empresa, não esquecendo a sua insegurança, são elementos que lhe prejudicam ao mesmo tempo que o coloca na frente nesta corrida familiar. Shiv quis construir carreira longe dos negócios da família, apostando na política para mostrar a sua racionalidade e jogo de cintura, no entanto, não pensa duas vezes quando Logan a seduz com promessas. Já Roman é o filho rebelde, sem escrúpulos e que se acha esperto por causa da sua jovialidade. Apesar de toda pose, logo abaixa a bolinha diante da autoridade do pai e chefe.
“Casos de família” com milionários
Succession se compromete como entretenimento. Quer coisa mais divertida e deliciosa do que assistir ricos brigando e passando a perna uns nos outros? É como um Casos de Família com milionários. A série se propõe a disponibilizar situações, que somente gente com dinheiro poderia fazer, para o nosso prazer que são festas, viagens internacionais, casarões na praia, no interior, na Inglaterra, jatinhos, iates, etc, recheadas de conflitos.
Além disso, as personalidades de cada personagem são instáveis e todos possuem egos que não permitem ser feridos por serem quem são. Até mesmo quando o embate é entre família, que são pessoas que você acha que pode confiar, no final, se mostram tão cheios de ambições que não se importam se tem o mesmo sobrenome ou sangue. O que vale mesmo é ser mais rápido e esperto que o outro.

Entretanto, mesmo que estas falhas sejam um atrativo, a série não quer revelar como o ser humano é egoísta ou como rico não se importa com nada além do dinheiro. O roteiro é focado em trazer situações instigantes em que coloca muita coisa em jogo, seja no âmbito pessoal ou profissional, e em estratégias para resolvê-las. Além dos choques morais em que te fazem refletir o que é certo ou errado? será que concordo? eu faria o mesmo? isso foi mesmo justo? por que ele fez isso? eu gosto dele, não gosto mais.
Mulheres são minoria
Succession não levanta bandeiras e nem quer debater questões que acontecem aqui fora, porém traz questões ainda muito pertinentes quando se trata de machismo. Na série é possível ver como neste universo de “negócios”, as mulheres são minorias, ainda assumem cargos muito secundários ou não são confiáveis o bastante para o poder.
Shiv, que apesar de ser a inexperiente na empresa da família, revela-se ao longo da série, como a escolha perfeita para suceder o pai por ser competitiva e ser muito estrategista, mas a sua vontade ainda não é vista com tanta receptividade por Logan. Além dela, Rhea (Holy Hunter) é constantemente julgada – por ser mulher – e atacada desde que se torna a preferida do dono da Waystar. Será que aconteceria o mesmo se fosse um homem no lugar dela? Não que isso se torne uma problematização na série. Apenas evidencia como a mulher não é só uma minoria como ainda passa pelos mesmos problemas de sempre em um mundo dominado por homens.

Briga para assistir de camarote
As duas temporadas, disponíveis na HBO GO, são maravilhosas. Em ambas, a série mantém a qualidade do drama e do humor também, já que não poupa no sarcasmo e ironia, além de ser recheada de reviravoltas precisas e surpreendentes. Vá por mim: Succession é a escolha perfeita para quem gosta de assistir briga de família de camarote.