Filmes da semana: O Poço, Longe do Paraíso, Café com Canela e Sid & Nancy

Estou de volta com cara nova! Em tempos de quarentena, o que mais tenho feito é assistir séries e filmes. Também estou revendo muita coisa, o que é irresistível quando se tem o acesso e a disponibilidade. Mas venho agora para compartilhar algumas anotações dos últimos quatro longas que assisti nesta semana. Claro, já conferi e tirei atraso em outras produções, que você pode conferir o que achei lá nos destaques do Instagram do Cine Looou, mas resolvi vir aqui comentar sobre os mais fresquinhos.

O Poço

O Poço é uma produção original espanhola da Netflix

A nova produção espanhola da Netflix chegou em uma época propícia para filmes com críticas sociais. Depois de Parasita, parece que todo mundo está com sede para histórias que cutuquem o capitalismo e a divisão de classes. O Poço tem esta pretensão pela sua proposta: em uma prisão vertical, detentos dos níveis superiores comem melhor do que os alojados nos andares inferiores. Um homem decide fazer algo para mudar o sistema.

Apesar de achar provocante a trama, O Poço não me comoveu em nada. Desde do primeiro momento, quando Goreng (Iván Massagué) divide uma “cela” com o velho Trimagasi (Zorion Eguileor), o filme já vem carregado de frases feitas e lições de sobrevivência entre um cara experiente e um novato na prisão. E assim segue a troca de momentos com outros parceiros de cela, e com isso, os diálogos como os seres humanos são perversos e como o sistema é injusto. Nada como se a gente não soubesse, não é mesmo?

A conclusão do filme, ao contrário do que se viu ali, quis tornar toda a trajetória de Goreng de forma poética com a subjetividade que fica entre o protagonista e Trimagasi. E por mais que exista milhares de matérias explicando este final, com suas teorias, O Poço perde de fazer a diferença com uma temática importante, em uma plataforma com um super alcance, ao querer esfregar os problemas da sociedade, seja por sermos egoístas ou por sermos submissos a quem está no poder, na direção errada.

Longe do Paraíso

Nem tudo é tolerado em Longe do Paraíso

Disponível no Belas Artes À La Carte, que está com catálogo gratuito até o dia 29 de abril, Longe do Paraíso é um filme lançado em 2002 que tem um aspecto de clássicos antigos de Hollywood. Isso vai além de retratar uma história da década de 1950 e uma família dita perfeita aos olhos de todos, mas o diretor Todd Haynes tem a mão certa para uma narrativa cuidadosa para temas polêmicos.

Digo isso porque o longa aborda a homossexualidade de Frank Whitaker (Dennis Quaid) sutilmente com pequenas cenas e momentos em que o espectador já entende o que está acontecimento sem julgamentos. Mas, em contraponto, é interessante como o diretor também mostra como o racismo é algo tão difícil de ser superado.

A amizade entre Cathy Whitaker (Julianne Moore) e Raymond Deagan (Dennis Haysbert), uma dona de casa branca da classe média e um jardineiro negro e pobre, é uma relação impossível em meio ao lugar que vivem, chegando ao ponto de ser perigoso, especialmente para Raymond. É triste ver como o preconceito é algo fora do nosso controle e até impossível de vencer. Comprovando que nem tudo é tolerado quando se trata de raça.

Café Com Canela

Café com Canela demora para acontecer

Após perder o filho, Margarida (Valdinéia Soriano) vive isolada da sociedade. Ela se separa do marido Paulo e perde o contato com os amigos e pessoas próximas, até Violeta (Alinne Brunne) bater na sua porta. Trata-se de uma ex-aluna de Margarida, que assume a missão de devolver um pouco de luz àquela pessoa que havia sido importante para ela na juventude.

O filme de Glenda Nicácio e Ary Rosa tem um objetivo de ser uma troca de gentilezas entre mulheres que enfrentaram períodos depressivos em suas vidas. Porém, Café com Canela demora demais para que este arco comece a ser desenvolvido e há o exagero tomando conta, com o excesso do sofrimento de Margarida sendo explorado sem necessidade. O contraste vem pelo lado de Violeta que leva uma vida ativa e afetiva com a família e amigos, e que resolve ir tomar conta da sua ex-professora para retribuir o gesto que recebeu um dia.

Por mais que seja bonita a atitude, o filme custa a chegar neste momento porque perde tempo demais em contar o óbvio e com as vidas em paralelo às da dupla, que parecem bem mais interessante. Assisti ao filme por causa da presença de Babu Santana que, apesar do pouco tempo em cena, arrasa com seu monólogo na abertura e sempre que aparece pela complexidade do seu personagem. Disponível na Amazon Prime Vídeo.

Sid & Nancy: O Amor Mata

Sid & Nancy: O Amor Mata acha bonito ser feio

Eu não sei porque ainda insisto em assistir cinebiografia de roqueiros. É o que sempre digo: se viu um, viu todos. Em Sid & Nancy: O Amor Mata, o filme explora o relacionamento entre o ex-baixista do Sex Pistols (Gary Oldman) e a groupie Nancy Spungen (Chloe Webb), que culminou na morte de ambos ainda nos anos 1970. Lançado em 1986, a história carrega o mesmo espírito punk do casal: é bagunçado, barulhento, sujo e vazio.

Mesmo que a narrativa combine com a dupla e com tudo que envolva o punk, não há um único momento sóbrio em meio a tanta confusão e excesso de drogas. Por mais que fosse o estilo de Sid e Nancy, o filme não se importa em mostrar alguma outra camada do casal e parece sensacionalista ao torcer para o pior acontecer. Se a própria direção torce para a derrota, como é que eu, enquanto espectadora, vou conseguir me solidarizar com o protagonista?

Devido a este excesso, Sid & Nancy é a pura rebeldia sem causa. Não há informações além de que o casal se conheceu na “merda” e continuou “na merda” até o fim. Não existe a glamourização do estilo sexo, drogas e rock’n’roll, mas o filme parece se divertir com as nojeiras que Sid e Nancy realizavam por ali. Talvez seja má vontade, e também a idade, mas já não tenho mais paciência tanto para comportamentos como a de Sid e Nancy quanto para cinebiografias de ídolos roqueiros. Disponível no Belas Artes À La Carte.

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