
Confesso que estava receosa com o filme solo de Arlequina (Margot Robbie), a famosa namorada do Coringa. Assim como a maioria das mulheres, cansada de ser definida por seu status de relacionamento, a personagem resolve mudar e dar início a uma nova etapa na sua vida. Pode até parecer poético, mas conhecendo o histórico e a personalidade de Arlequina, nada será tão pacífico e espiritual como se espera.
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa reivindica, de fato, a emancipação não só da protagonista, mas de mulheres em Gotham que estão à procura da sua justiça e vinganças pessoais. É uma boa sacada a proposta de unir este grupo, que sempre foi silenciado por seus superiores, e que conseguem encontrar um motivo em comum para derrotar Roman Nois/Máscara Negra (Ewan McGregor) e defender a adolescente Cassandra Cain (Ella Jay Basco).

O roteiro de Christina Hoodson não passa muito além disso mantendo o foco em apenas um objetivo – manter a jovem e um diamante muito importante a salvos – e consequentemente, cada personagem ter a sua redenção que precisava. Bastante comum, o que já é esperado em uma narrativa clássica deste universo de super-heróis no cinema, e simples, já que o roteiro não abre abas em excessos só para prolongar a projeção. Em contraponto a isso, a montagem de Jay Cassidy e Evan Schiff utiliza os flashbacks como recurso para brincar com o ritmo e combinar com a mente insana de Arlequina, que constantemente oculta informações do público, mas que “brincalhona” como é, dá um jeito de corrigir estes detalhes.

A verdade é que Aves de Rapina depende muito da performance de Margot Robbie que, definitivamente, está muito mais suportável e simpática neste filme do que em Esquadrão Suicida. Sem revelar as verdadeiras razões do seu término com Coringa, Arlequina quer marcar o seu território em Gotham e mostrar de quem o povo deveria sentir medo. Margot parece que nasceu para esta personagem e mostra todo o seu potencial como atriz, assim como fez em Eu, Tonya, onde não precisa apostar tanto na sua beleza, e nos surpreende com as suas outras facetas. As suas cenas de ação são incríveis e Margot revela um bom timing cômico.

Outro ponto positivo de Aves de Rapina é a construção do grupo de emancipação de mulheres de Gotham. A direção de Cathy Yan é justa em dividir as histórias de Renee Montoya (Rosie Perez), Canário Negro (Jurnee Smollett Bell) e Caçadora/Helena Bertinelli (Mary Elizabeth Winstead), que nos faz ter interesse o suficiente e fazer com que o público se importe com a jornada de cada uma delas. O que faz toda diferença quando quem comanda o filme é uma mulher, não é mesmo? Já que a mesma consegue tratar de assuntos muito particulares femininos e que não teriam o mesmo cuidado, até mesmo a interpretação, se fosse pelas mãos de um diretor homem. Como é o caso da relação de Cassandra e Arlequina, em que a protagonista encontra alguém tão desamparada quanto ela e tenta dar um novo rumo para ambas.

Cathy também conseguiu dar um novo gás para um filme do universo dos quadrinhos, tão predominado pelos “machos”: trilha sonora composta só por artistas femininas, nada de sexualização, sem pares românticos, todo mundo odeia a protagonista, referência de Marilyn Monroe de calça, Ewan McGregor perverso, mulheres ajudando outras mulheres, entre outras ações que finalmente estão ganhando novas formas nas telas. Aves de Rapina surpreende por querer se divertir em meio a tantos outros filmes do gênero que se levam a sério demais sem necessidade. É puro entretenimento, mas agora com mulheres na linha de frente.