
Eu não sei se acabei Bojack Horseman ou se Bojack Horseman acabou comigo? Uma série, famosa por debochar da rotina, vícios e hipocrisias de Hollywood, chegou na sua sexta e última temporada de forma muito bem sucedida, conseguindo superar-se a cada novo ano. É impressionante como o roteiro desenvolveu cada etapa dos seus personagens, especialmente de Bojack Horseman (dublado por Will Arnett), que finalmente conseguiu compreender as falhas da sua vida.
A série entregou, em seus dez episódios, ao longo das suas seis temporadas, arcos densos de Princesa Carolyn (Amy Sedaris), Diane Nguyen (Alison Brie), Mr. Peanutbutter (Paul F. Tompkins) e Todd Chavez (Aaron Paul), que também passaram por reflexões sobre as suas atitudes e de como chegaram até ali. Eu gosto muito da série, criada por Raphael Bob-Waksberg, por assumir desde o início a sua não perfeição, por me identificar com as tristezas, por não me entender como alguns dos seus personagens, por me questionar por que estou repetindo padrões que me deixam mal e, com tudo isso, compreender as dores que não são nossas, mas que se refletem em nós. De alguma forma, existe uma herança que, infelizmente, é difícil de se desvincular porque nos acostumamos e acreditamos que merecemos isso.

Bojack Horseman consegue me deixar muito pensativa sobre muitas coisas que passam pela vida mesmo sendo uma animação ambientada em “Hollywoo”. E é difícil não ficar triste com a história do cavalo, ídolo da televisão americana, que se joga a uma vida irresponsável com drogas, sexo e o que tiver pela frente, e acaba influenciando, involuntariamente, a vida de todos que estão na sua volta. Neste acúmulo de erros, Bojack finalmente encontrou-se no meio deste limbo, pois não só nós sabemos, como ele também sabe que no fundo ele é uma boa pessoa e quer viver isso. Mas como seguir adiante quando todos apontam e lhe condenam pelos erros do seu passado? Existe realmente a chance de começar de novo? Tem como perdoar?

A série surpreendeu em todas as suas temporadas com episódios que oscilam entre o formato original e outros que brincam com a narrativa, com ou sem diálogos, alterações nas linhas dos desenhos, uns com tom mais sérios, outros mais irônicos, e o mais legal de tudo isso é que você sente que conhece todos os personagens que estiveram ali com Bojack em suas seis temporadas. Não só o protagonista sofreu com as suas atitudes, mas os demais também tiveram seus dramas desenvolvidos e que não envolvessem o cavalo.

Princesa Carolyn, a própria personificação da mulher que sonha em dar conta de tudo, consegue encontrar as suas prioridades, Todd, o rapaz perdido entre as suas loucuras, finalmente encontra o seu caminho que não precisa ser como dos outros, Mr. Peanutbutter, o mais “good vibes” da turma encara o desafio de, pela primeira vez, viver sozinho sem estar em um relacionamento, até Diane, que assim como Bojack, veio de uma família desestruturada e com zero confiança em si mesma, para de fugir da sua verdade e entende que a sua depressão não tem cura e precisa encará-la um dia de cada vez.

Bojack Horseman não tem um final feliz porque sabe que não existe um. A série soube brincar trazendo assuntos sérios e de um jeito respeitoso. E até poético, diria. Como uma das frases ditas por Todd: “O sentido da arte não é o que o artista quer passar e sim o que as pessoas interpretam”. Por isso, interpreto que não importa o que criadores quiseram passar com esta série, mas como é possível encontrar um pouco de luz dentro de si, mesmo que seja difícil de se chegar lá.
As seis temporadas de Bojack Horseman estão disponíveis na Netflix.
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