
O Oscar não seria o Oscar se não tivesse a sua cota hétero entre os indicados a Melhor Filme. O que isto significa? Histórias tradicionais, que todo mundo já conhece e espera aparecer, como algum longa relacionado a guerras, máfia, dinheiro, assassinatos, esporte, disputa, terninhos e só protagonistas e elenco predominantemente do sexo masculino. As mulheres onde ficam nisso? Naqueles mesmos papéis de sempre: a esposa dedicada, companheira e compreensiva, ou a “princesa” que precisa ser salva ou somente estar lá para ser uma vista bonita a ser admirada. Encontra-se um pouco disso em cada um destes filmes. Quer apostar?
1917

1917 é tudo o que Hollywood ama: esteticamente perfeito; design de produção impecável; efeitos e edição TOPS; missão impossível e perigosa de concluir; um herói solitário; trilha sonora encaixadinha; tensão à flor da pele e final redondinho e melancólico. É inegável que é uma super produção. Apesar de muitos comentarem da falta de “alma”, eu consegui me conectar com o filme de Sam Mendes por me entregar exatamente o que esperava, que era tudo o que já mencionei antes.
Entre a cota hétero do Oscar, 1917 é o que mais gosto por trazer esta proposta ousada e muito bem-sucedida. E também acredito que se o diretor apostasse em aprofundar mais na história do protagonista, o longa pecaria pelo excesso e não seria bom no que ele quer ser. Assim como dito na abertura do post, há apenas uma mulher durante toda a história que aparece pedindo ajuda e é um dos poucos momentos que o soldado encarregado da sua missão deixa fluir um pouco da sua sensibilidade. Trailer.
Era Uma Vez em… Hollywood

Quentin Tarantino já se tornou um daqueles diretores que mesmo mudando a história, repete a fórmula do sucesso. Famoso por promover a vingança histórica, aquele “e se”, o diretor novamente utiliza um fato real para explorar em uma ficção com os elementos que o consagraram no cinema. Preguiçoso.
Não dá para negar que o longa tem seus pontos positivos como as atuações de Leonardo DiCaprio, que se supera magnificamente com doses de humor e dramaticidade caricata que o tornam sensacional em cena, e Brad Pitt, que faz o galã marrento que todo mundo adora. A dupla é a razão de ser de Era Uma Vez, já que o mesmo demora a encaminhar ao que realmente importa.
Margot Robbie fica limitada a um papel que apenas lhe exige que exista, que seja a perfeição de uma estrela de Hollywood que teve um fim trágico. A atriz, novamente, entra em cena somente para embelezar a narrativa, até porque que o propósito da sua personagem é realmente só estar ali. É mais do mesmo do Tarantino. Trailer.
Ford vs Ferrari

Ford vs Ferrari foi um filme que passou tão despercebido que só teve atenção merecida após o anúncio das indicações ao Oscar. Desde então ficava me questionando o motivo pelo qual resolveram nomear este filme de James Mangold? Baseado em uma história real de um automobilista. Pelo título, imagina-se que a grande disputa seria entre estas duas gigantes, mas o filme revela-se uma batalha interna dentro da própria equipe da Ford.
Entre brigas de egos masculinos, quem tem dinheiro é quem sempre vence a corrida. Não é à toa que o carisma de Ken Miles (Christian Bale) conquista e nos faz torcer pelo seu núcleo. Especialmente por acompanhar a paixão dele, assim como os golpes que leva da “equipe” que deveria ser sua aliada. Por falar nele, Christian Bale nunca decepciona em cena. Aqui, ele é um cara totalmente despojado, boca suja e movido ao ódio. Sempre diferente em cada papel que faz, o ator é a melhor coisa que Ford vs Ferrari poderia ter.
O enredo de Ford vs Ferrari é aprofundada, exatamente por querer contrastar dois universos, e por envolver o público com os personagens para que o arco seja ainda mais dramático quando for preciso. Tem muito carro fazendo barulho, cenas de corrida a mil por hora, esposa (sempre preocupada com a casa e o sonho do marido) e filho torcendo pelo herói da casa e a expectativa de saber qual vai ser o final da história se você não sabe quem foi Ken Miles. É um boa produção, mas não para ser indicado a Melhor Filme. Trailer
O Irlandês

Como já era esperado, eu não gostei de O Irlandês. Nada contra, mas o cinema de Martin Scorsese nunca me atraiu. Acredito que seja por sua filmografia se tratar de uma eterna cota hétero (rs) e neste, especificamente, parece ter chegado no seu limite sem nenhuma surpresa. Filme de máfia, muito dinheiro em jogo, o “sofrimento” de um pai e marido ausente, mata e sai caminhando tranquilamente, homem melancólico relembrando uma vida do crime sem arrependimentos, definitivamente não é para mim.
Apesar disso, não quero dizer que o filme seja ruim. Longe disso. Reconheço toda a super produção e direção, afinal de contas é Martin Scorsese, ele sabe fazer cinemão clássico, e as atuações de Al Pacino e Joe Pesci estão ótima, o que provoca uma certa nostalgia. Já Robert De Niro não comove e ainda é incompreensível todo o investimento tecnológico em cima do seu rejuvenescimento. Mas como diria Vera Fischer, minha crítica de cinema favorita: este tipo de filme é para quem gosta, claro. Trailer.