A esperança e a honestidade de A Vida Invisível

Julia Stockler e Carol Duarte arrasam em A Vida Invisível

Estreou nessa semana um dos filmes brasileiros mais aguardados do ano.  A Vida Invisível ganhou elogios desde a sua primeira exibição no Festival de Cannes 2019, onde levou o prêmio Um Certo Olhar – fato inédito na história do cinema brasileiro -, além de prêmios do público de Melhor Filme e do júri de Melhor Fotografia, no Festival de Cinema de Lima; e o CineCoPro Award, no Festival de Munique.

Baseado na obra de Martha Batalha, o filme é o sétimo da carreira do diretor Karim Aïnouz e é o representante do Brasil na disputa por uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar 2020. A decisão não poderia ter sido a mais sábia por ser uma história universal e que mesmo sendo ambientada nos anos 1950 no Rio de Janeiro, ainda deixa marcas, quase que invisíveis, no presente.

“A Vida Invisível” mostra as consequências de uma separação injusta das irmãs Eurídice (Carol Duarte) e Guida (Julia Stockler), causada pelo pai Manoel (António Fonseca), que não aceitou a “desonra” que a sua filha Guida causou à família. O filme representa bem a invisibilidade que cada personagem feminina sofre dentro dos seus lares e a incapacidade de reverterem este papel dentro da sociedade. Em um dos diálogos, uma personagem diz “sorte a dele” quando recebe a notícia de que Guida teve um menino.

Irmãs têm a esperança de se reencontrarem

Mesmo que distantes, Eurídice e Guida passam por dificuldades por não conseguirem concretizarem os seus sonhos, seja estudar música ou viajar sozinha com o filho, por serem mulheres. Mas o diretor Karim Aïnouz sabe como criticar este “patriarcado” tão onipresente. Gregório Duvivier é o melhor exemplo neste caso, por interpretar Antenor, o marido de Eurídice, que se comporta de modo torto e infantil, mas é quem tem a palavra final dentro de casa. Assim como é Manoel, pai e marido enraivecido, sendo o próprio estereótipo português.

O conjunto de A Vida Invisível sabe transmitir muitos sentimentos, com suas cores – o verde tão vivo em figurinos e cenários, representando a esperança – com as suas atuações – basta Fernanda Montenegro aparecer para sentir todo o peso de uma vida – e com sua edição bruta, que sintetiza e nos recoloca na história sem mais explicações.

Karim Aïnouz traz um filme honesto por assumir o seu ‘melodrama tropical’ com tudo que tem direito e sem subestimar o seu público com uma história simples, mas com a dose certa de provocação. A Vida Invisível chega para emocionar e representar vidas que a gente não quer mais que se percam.

• Texto escrito originalmente para o site do Correio do Povo 

Aproveitando já deixo o link do podcast ALouPode, onde converso com o meu amigo e colega jornalista Matheus Pannebecker, do blog Cinema e Argumento, sobre A Vida Invisível. O podcast está disponível no Spotify. Clique aqui.

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