
Se tem uma moda que parece irresistível no universo do entretenimento é refilmar ou lançar sequências de filmes e séries que foram bem sucedidas. Mas isto tem se tornado algo tão preguiçoso e, na maioria das vezes, inútil. Como é o caso de El Camino: A Breaking Bad Film que chegou na Netflix na última semana.
Eu não poderia concordar mais com a Jennifer Aniston quando comentou, recentemente, que um reboot de Friends não seria tão bom e que isso arruinaria a série. E isto se aplica a muitos produtos já lançados por aí, assim como também nesta continuação da série criada por Vince Gilligan, que narra os desdobramentos após o fim de Breaking Bad lá em 2013 e que infelizmente não agrega em nada.
Não vou mentir, eu fiquei empolgada com este filme, lembrando da qualidade magnífica de Breaking Bad. Por isso, resolvi assistir aos 3 últimos episódios da última temporada para recordar o desfecho. E nossa, foi incrível. Eu realmente precisava voltar para Albuquerque, Novo México, e reviver aquele clima de suspense, ação e drama incomparáveis. Aquelas cenas longas e contemplativas, as atuações sempre por um fio, o roteiro que nunca seguia o caminho comum, enfim, uma série inesquecível e que sempre vale a pena revisitar.
Porém, tudo isso se perde em El Camino. Eu não entendi onde foi que Vince Gilligan perdeu a mão neste filme já que não trouxe nada de relevante e apenas explorou o sofrimento de Jesse Pinkman (Aaron Paul) gratuitamente. Só que a Netflix, que certamente teve influência em todas as decisões, enxergou nisso uma oportunidade de dar uma redenção a este personagem que nunca teve um momento de paz depois que conheceu Walter White (Bryan Cranston). O grande triunfo do final da série foi a subjetividade que ele entregou aos personagens, especialmente Pinkman. Breaking Bad nunca foi uma narrativa sobre redenção. Não teria o por que do filme ser assim também.
El Camino não soube aproveitar o que teve de bom em Breaking Bad. O roteiro tem buracos e falhas como, por exemplo, Pinkman conseguir se esconder na casa dos amigos e o FBI nem desconfiar disso, além de se estender em enrascadas como a que ocorre no apartamento de Todd (Jesse Plemons). Parece que o filme quis brincar ainda mais com o destino do Pinkman como se fosse um jogo de videogame onde ele precisa passar por fases para não perder a sua vida. Sem contar que entre estes momentos tem os flashbacks piegas e os que alimentam a sede de vingança do protagonista. Tem uma hora que perde a graça.

Sem contar que é muito estranho assistir flashbacks com os personagens com biótipos muito diferentes do que eram na época da série. Não dá para acreditar. Assim como o fan service que acontece e ainda assim, não comove tamanha a falta de coerência entre a dupla. Aaron Paul carrega muito Jesse Pinkman em si, mas a verdade é que o seu personagem não era conhecido por suas espertezas quando se tratava de fugir de uma cilada. Toda a sagacidade de sair por cima era um atributo de Walter White. Pode ser que Pinkman tenha aprendido com o mestre? Talvez, mas o roteiro cria situações tão ordinárias que parece que esta influência surgiu milagrosamente e depois morreu.
Sabendo da tamanha audiência de Breaking Bad, a Netflix aproveitou a deixa para lançar mais um produtinho para agradar os fãs. Só que abre a discussão do quanto é realmente necessário criar spin offs, retomar pontas soltas e dar continuidade a produções que já tiveram o seu êxito. Por sorte, El Camino não estraga a experiência de Breaking Bad, por isso vou continuar fingindo que este filme nunca existiu.