
Fleabag foi uma das minhas melhores companhias recentemente. A série criada, escrita e produzida pela Phoebe Waller-Brigde, minha mais nova ídola, é como se fosse a sua melhor amiga da qual você pode ser a mais transparente possível. Ser a sua versão mais crua e sem filtro. Inclusive, ultrapassar limites. Gosto do programa por causa das falhas, vulnerabilidade e até mesmo da carência dos personagens. A protagonista Fleabag assume a linha de frente desta narrativa que nos mostra que para fugir da solidão toda pessoa se submete a muitas situações e relações desnecessárias.
Fleabag trata sobre a negação da solidão e o quanto fingimos estar tudo bem, quando lá no fundo, não queremos admitir o que estamos sentindo. Veja, por exemplo, a família da protagonista. Claire (Sian Clifford), a irmã de Fleabag, acredita ter a vida perfeita mesmo com um marido fracassado e um enteado perturbado. Além de achar que está no controle de tudo, quando na verdade, não. Já o Pai (Bill Paterson) acaba enrascado em um relacionamento forçado com a Madrinha das filhas, que se aproveita do luto da família para assumir o papel de madrasta. Sendo que era melhor amiga da Mãe das meninas. Um papel difícil, mas que só Olivia Colman consegue fazer perfeitamente.

Em uma série com apenas duas temporadas de seis episódios com pouco menos de 30 minutos cada, a história assume a ousadia de mesclar um drama complexo com nuances humorísticas graças a quebra da quarta parede feita pela protagonista. Por causa disso, é fácil acompanhar Fleabag porque ela encarna o clima do “melhor rir para não chorar” em meio a suas aventuras pelas ruas de Londres. E como ela dá o tom sarcástico da situação, a história não fica tão pesada porque ao compartilhar o momento, Fleabag também está fugindo da solidão da sua vida e nos colocando junto. Logo, nós também somos um personagem (aloca).
Phoebe Waller-Bridge tem um timing de roteiro muito bom ao modernizar questões femininas, ser sincera nas relações humanas e refletir a maturidade de uma mulher de 30 e poucos anos que ainda “não se encontrou”. Além dela ser uma ótima atriz que entrega uma personagem engraçada, frágil e esperta. O restante do elenco também é maravilhoso. Principalmente Sian Clifford, que é a irmã controladora e facilmente tirada pra frígida que precisa manter as aparências, e Olivia Colman que é a madrinha falsiane mais passiva-agressiva que já existiu. E ah, não poderia esquecer de Andrew Scott que interpreta o padre gato na segunda temporada, que não só é a pessoa mais fofa deste mundo como foi o primeiro a prestar atenção em Fleabag e fazer com que ela voltasse a ter os pés no chão.

Phoebe tem razão em não dar continuidade a outras temporadas de Fleabag. A personagem principal encerrou o ciclo do qual estava passando, onde não queria encarar o luto da perda da mãe e da melhor amiga, e entendeu que precisava seguir em frente sozinha. Logo, até nós não teríamos mais utilidade ali. E somente neste recorte, já dá para evoluir e muito pessoalmente. A força da série está justamente em entender que tudo vai passar. Nenhuma dor é para sempre e está tudo bem.
As duas temporadas estão disponíveis na Amazon Prime Video.