
O Rei Leão é muito especial na minha vida. Lançada em 1994, a animação chegou no Brasil no ano seguinte e foi o primeiro filme que assisti no cinema. Engraçado perceber que esta é uma das poucas memórias da minha infância que não se perdeu ao longo da vida. Eu quase não lembro de nada de quando era pequena, mas a ida ao cinema ficou comigo. Desde da descida do ônibus para ir no Shopping João Pessoa até o momento que me sentei no cinema permaneceram intactos. E hoje com o lançamento da refilmagem, o sentimento da pequena Lou voltou com tudo. O entusiasmo e a curiosidade se concentraram nesta nova versão de O Rei Leão.
Dirigido por Jon Favreau, o filme chegou com uma enorme expectativa tanto por esta experiência tecnológica quanto pelo super elenco de dubladores. Nem vou entrar no mérito que realmente não precisava da refilmagem deste clássico da Disney, mas já que é para fazer, acredito que a produção caprichou em todos os aspectos. O longa já é um marco tecnológico pelo realismo visto do início ao fim. A ponto de realmente deixar tudo com cara de documentário do Discovery Channel, o que foi a reclamação de muita gente. Mas esperavam o que? Uma recriação fiel da animação com leões saltitantes e aves fazendo expressões feito Susana Vieira?
Se a proposta era realmente uma nova versão, o diretor deu um novo sentido para esta famosa história, agora com roteiro de Jeff Nathanson, e claramente inspirada em Hamlet de William Shakespeare. Se a mensagem antes era sobre aprender com erros do passado, a entender as suas origens e a se encontrar em meio ao caos, o filme reforça a importância de um líder em sua comunidade. Mufasa, novamente dublado pelo fantástico James Earl Jones, fala que para um rei, não é o que ele pode ter que realmente importa, mas o quanto ele pode oferecer ao próximo. Ao contrário do que pensa Scar, aqui dublado por Chiwetel Ejiofor, que apenas quer o reino pelo egoísmo e a obsessão por aquilo que não tem. Seja o trono ou a amada, já que fica evidente que Sarabi (Alfre Woodard) escolheu o seu irmão para formar uma família e deu um fora em Scar.

Estes detalhes, somam-se a outros que Jon agregou nesta refilmagem que deixaram a história muito mais adulta e sombria. Especialmente na caracterização de Scar, perceba o contraste físico que o personagem tem com os demais leões. Enquanto Mufasa e companhia aparentam um visual mais saudável e simpático, Scar é magérrimo em comparação aos outros, tem o andar pesado e contamina o ambiente com a sua energia negativa. O que me agrada, já que Jon Favreau foge de repetir o sarcasmo já visto no desenho e aqui, ele mostra uma versão maligna e verdadeira do que o personagem propõe.
Além disso, o filme adaptou e deu mais espaço a personagens como Nala na narrativa. Sem levar tanto mérito no desenho de 1994, Nala, que ganhou a benção de ter a voz de Beyoncé, tornou-se peça essencial para que Simba (Donald Glover) tomasse a coragem para voltar para casa e também conquistou uma força interior para chamar o adversário para a briga. O momento em que ela fala “Are You With Me, Lions?” é empoderador. Não vai demorar para que a frase se torne um bordão em seus shows.
E O Rei Leão não seria o mesmo sem Timão e Pumba, que são o auge do filme, assim como foram anteriormente. Por sorte, Seth Rogen e Billy Eichner conseguiram manter o carisma dos personagens, assim como a própria história soube continuar brincando com suas personalidades. A mesma situação acontece com Rafiki, que ganhou um outro significado por causa da sua origem africana e até o próprio Zazu ficou ainda mais com espírito de puxa saco.

Mesmo com um time forte de dubladores, o mesmo acaba pecando pela falta de vontade. Muitos podem não perceber, mas como a interpretação neste filme depende muito das vozes do elenco, uma entonação, um suspiro e um sentimento podem dizer muita coisa na história. E alguns momentos, não ocorrem a sincronia da cena com a voz que estamos ouvindo, refletindo em um dublagem mecânica, a ponto de sentir que os atores estavam realmente lendo o roteiro ao invés de soarem naturais. Além disso, o filme desperdiça uma música grandiosa como Spirit, faixa inédita da Beyoncé, que teve poucos segundos na tela e que tornaria a experiência muito mais forte.
Sem dúvidas, O Rei Leão é um filme que entrará na história pela sua recriação tecnológica. Jon Favreau aperfeiçoou o que já era bom do clássico e acrescentou o que precisava para se manter atual na época em que vivemos. Realmente, não teria lógica rodar o mesmo filme, frame por frame, sendo que a animação de Roger Allers e Rob Minkoff está aí para qualquer um assistir quando quisesse. E mesmo que não precisasse desta refilmagem, a verdade é que este filme animou, novamente, a criança dentro de mim.
[…] paralela à produção da Disney, baseado na narrativa da animação O Rei Leão, que ganhou uma refilmagem no ano passado. Beyoncé, inclusive, emprestou a sua voz à personagem Nala nesta nova versão. Foi a partir daí […]
CurtirCurtir