
No livro Como ver um filme, da jornalista Ana Maria Bahiana, a escritora escreve sobre como passar do estágio de plateia passiva para a que colabora com os realizadores acrescentando ao filme sua percepção. Compreendendo por que está vendo o que está vendo (e não outra coisa), nesta cena (e não em outra) e com estes sons (e não outros ou nenhum). E com isso, tendo uma experiência prazerosa e inteligente com um filme.
Com estes ensinamentos de Bahiana, Guava Island preenche estes requisitos sucessivamente. O filme dirigido por Hiro Murai – o mesmo que dirigiu o fortíssimo This Is America de Donald Glover – repete a parceria com o ator e cantor neste filme produzido e disponível online pela Amazon Prime. Aqui, o cineasta consegue exibir em apenas 55 minutos o que realmente quer dizer, mostrar e cantar ao público.
Guava Island é facilmente digerível, espirituoso e crítico. Em quase uma hora, o longa dispõe de uma contextualização rápida e simpática sobre a região pobre em que se passa, os pouquíssimos personagens são bem desenvolvidos e objetivos sobre a sua história e o conflito principal, apesar de simples, é simbólica demais.
Um festival de música é o grande sonho do músico entusiasta Deni Maroon (Glover), que ama a sua comunidade e quer dar este simples lazer aos seus companheiros – que é explicado tanto nos diálogos quanto nas performances musicais – que pouco desfrutam deste momento que é considerado um luxo para a maioria. A ousadia que se entrelaça com a ingenuidade de Deni é o que exatamente conquista os seus “fãs”, que se unem junto ao protagonista, a este protesto contra Red Cargo (Nonso Anozie), o principal opositor do evento musical.
Por se tratar de uma localidade fictícia, a situação social é perfeitamente encaixável a nossa realidade. Especialmente à áreas mais pobres que dependem de alguma autoridade rígida e intimidadora. Por isso, é tão fácil aproximar-se e, claro, reconhecer esta história recheada de críticas econômicas que sabe onde está a raiz do problema, mas também entende que não há solução para o mesmo.
Se o personagem de Donald Glover é o sonhador com o a cabeça e o coração nas nuvens, a sua parceira em cena, Rihanna, que dá vida ao papel de Kofi Novia, é a pé no chão da história. No entanto, ela é a mesma que incentiva os projetos do par, ao mesmo tempo que tem aquela pontinha de realidade cravada no pé. A cantora, que tem apresentado boas performances, é consistente ao seu papel e entrega uma expressão e tanto na sequência final. Ela, por ser a mais descrente que este projeto do amado, é a que acaba tomando o ato para si liderando a mensagem principal do filme: que os sonhos, por mais inalcançáveis que sejam, podem se realizar de alguma maneira.
Por falta de um trailer oficial, deixo aqui uma das melhores cenas de Guava Island:
[…] também já se aventurou. Por mais que seja mais conhecida por papéis mais recentes como em Guava Island e Oito Mulheres e um Segredo, Rihanna já participou de alguns outros longas, e até dublou uma […]
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