Infiltrado na Klan pode ser baseado em uma história verídica que aconteceu nos 1970 em Colorado Springs, nos Estados Unidos, mas a sua temática ainda reverbera fortemente entre nós em pleno século XXI. Ron Stanllworth (John David Washington) é um policial negro – fato raríssimo para corporação na época – que em sua primeira missão conquista a façanha de se infiltrar no Klu Klux Klan, movimento extremista que defende a supremacia branca. Ron se surpreende com o anúncio em um jornal convocando aliados para o grupo e então, decide investigar a situação que muitos poderiam achavam ser inofensiva, mas a intuição do protagonista discorda completamente.
Premiado pelo Júri no Festival de Cannes deste ano, o filme dirigido por Spike Lee estreia nesta quinta-feira resgatando uma história inusitada, carregada de críticas e trazendo diversas questões raciais. O diretor mistura muitos elementos estéticos e narrativos que conduzem uma linha de raciocínio dinâmico e de alta qualidade, além de colocar referências a filmes que complementam o recheio de Infiltrado na Klan como, por exemplo, E o Vento Levou (1939), O Nascimento de Uma Nação (1915), e também aponta personagens estereotipados do movimento blaxploitation como Cleopatra Jones (1973), Coffy – Em Busca de Vingança (1973) e Foxy Brown (1974). Outra sacada do diretor é não sobrecarregar a dramaticidade da história utilizando o teor cômico de forma travestida para não colocar o protagonista como vítima da situação e tampouco atacar os antagonistas. Já que o problema não são as pessoas, mas os seus pensamentos. E não é preciso muito para achar ridículo os ideais deste culto. Além de, claro, nunca esquecer de expor detalhes que causam um nó no estômago. Somente a genialidade de Spike Lee poderia transformar este filme em um ato político.
John David Washington, filho de Denzel, comanda a investigação em cima do Klu Klux Klan de forma pacífica, inteligente e com muita raiva. O ator inicia a trama inofensivo, porém a sua confiança ao longo desta jornada preenche a alma deste filme. Mesmo com o objetivo de sabotar o movimento racista americano, ele também consegue abrir-se a outras discussões em que ele estava totalmente alheio. Quando conhece a ativista Patrice (Laura Herrier) Ron percebe as vertentes que a militância negra estava fazendo na época com palestras, discussões e manifestações poderia ser tão mais corajosa do que a sua luta secreta. Assim como ele acaba despertando as origens de Flip Zimmerman (Adam Driver), seu parceiro na investigação policial, um judeu não-praticante que também se vê rodeado de pessoas intolerantes a sua existência ao também se infiltrar no Klu Klux Klan. Ron é o principal agente transformador desta polêmica história.
Spike Lee prova em Infiltrado na Klan que o cinema é a principal arte para plantar a ira, despertar os acomodados e causar a discussão. Ele não se rege apenas a narrativa tradicional ficcional e soca o estômago do público ao encerrar o filme com imagens de protestos recentes da supremacia branca em Charlottesville e do movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos. A escolha de cortar dos anos 1970 para 2017 é certeira. Apesar do diretor ter sido criticado por este método, o filme não perde o crédito por escancarar a desigualdade racial que há muito tempo é mascarada. O público leva uma porrada na cara ao enxergar que o racismo ainda é predominante na sociedade e quanto esta luta está longe de acabar.
Nota: ★★★★
• Texto escrito originalmente para o site do Correio do Povo
[…] com Melhor Filme em Drama, eu premiaria Infiltrado na Klan, por todo o conjunto que o longa carrega. Além de ser um tema importante, ele é executado […]
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