
- Crítica escrita para o site do Correio do Povo em agosto de 2018
A Mostra Competitiva do 46º Festival de Cinema de Gramado não poderia ter sido tão bem encerrada quanto foi com A Cidade dos Piratas, de Otto Guerra, na noite dessa sexta-feira. O diretor apresentou a sua mais nova animação que mescla documentário e ficção sob um tom de crítica social ao País. Por ser feito desta forma, o filme é muito bom por ser tão maluco quanto o próprio animador gaúcho.
Inicialmente, o longa foi baseado nas tirinhas Piratas do Tietê, da caturnista Laerte Coutinho, criado em 1983. Quando Otto já estava com a produção quase pronta, Laerte recua e avisa ao diretor que não quer mais participar do projeto por considerar o seu antigo trabalho machista. Com isso, Otto entra em crise criativa e na tentativa de salvar o seu trabalho, resolve colocar-se em cena e descrever todo este drama criando diversas costuras entre a vida real e a liberdade da ficção.
Até mesmo a transexualidade de Laerte é debatida no filme. Ele também contou sobre o momento em que foi diagnosticado com câncer de colon em 2013 e sobre as demissões de funcionários da equipe que desistiram do projeto ao longo da produção que durou quase 20 anos.
A Cidade dos Piratas pode ser considerado o filme mais pessoal de Otto Guerra, não só pela sua participação, mas pelo desabafo do autor dentro do seu ofício e, com isso, o público pode aproximar-se da mente maluca de Otto. O que deve ser muito interessante de acompanhar na prática por causa do alto nível da sua imaginação, criatividade e falta de filtro. O ritmo frenético da história mostra que as suas viagens podem parecer loucas, mas fazem muito sentido. O uso inicial dos cartuns são perfeitos para cutucar os problemas sociais do Brasil e por fazer piadas com a história da formação da nação.
A homenagem do Festival de Cinema de Gramado ao animador, em 2017, quando recebeu o troféu Eduardo Abelin pela sua carreira, não foi à toa. “A Cidade dos Piratas” é mais um fruto da sinceridade e talento irrefreável de Otto Guerra.
[…] de O Avental Rosa, o Festival de Cinema de Gramado encerrou a Mostra Competitiva com o frenético A Cidade dos Piratas, do animador gaúcho Otto Guerra. A produção do longa durou quase 20 anos por causa do conflito […]
CurtirCurtir