Cinema e música são duas combinações que não poderiam dar mais certo para mim. Em Paraíso Perdido, o filme dirigido por Monique Gardenberg possui os elementos necessários para fazer um ótimo entretenimento para agradar o público que quer algo fácil digestivo. Principalmente para os que estão desconstruindo uma visão antiquada. O longa traz um melodrama embalado por canções exageradamente românticas e antigas, mas totalmente repaginadas pelas novas versões cantadas pelo elenco. A história se passa dentro de um bar de música ao vivo dirigido por José (Erasmo Carlos), um senhor idoso que contrata o policial Odair (Lee Taylor) para ser segurança particular do seu neto Ímã (Jaloo), uma cantora drag queen que sofre uma agressão na rua após ser envolver com Pedro (Humberto Carrão). Lá, Odair também conhece Ângelo (Júlio Andrade), filho de José, que se apresenta na boate e sofre por causa do desaparecimento da sua esposa, e de Celeste (Julia Konrad), filha de Ângelo que descobre que está grávida do seu infiel namorado. Enfim, dá para perceber que Paraíso Perdido está longe de ter uma sinopse fácil de explicar, não é mesmo?
Entretanto, o longa é carregado sob o ponto de vista de Odair que parece ter sido, inexplicavelmente, seduzido por este bar que possui muitas histórias de amor que não terminaram bem. Aos poucos, ele vai desvendando os segredos daquele lugar ao mesmo tempo que ganha a confiança daquela família e também se torna parte dela. Mas a verdade é que tudo naquele ambiente também conta um pouco da própria história e mostra que a sua chegada não foi pura coincidência. Aí que entra a inserção de mais personagens neste enredo novelesco: Nádia (Mallu Galli), mãe de Odair que se tornou muda após ser vítima de uma violência no passado, Eva (Hermila Guedes) filha de José e mãe de Ímã, que estava presa há 20 anos, e Milena (Marjorie Estiano), companheira de Eva na cadeia e também se integra ao grupo. Com mais estas personagens, a trama vai se enrolando cada vez mais e confundindo o entendimento que o público estava amarrando até aqui. O que não foi fácil, visto que inúmeras histórias abertas podem perder a sua validade se nem todas possuírem o mesmo significado.
A diretora Monique Gardenberg, também responsável por Ó, Pai, Ó (2007), talvez repita a mesma fórmula que teve com o hit baiano agora com Paraíso Perdido. Não vou mentir que estas histórias de amores impossíveis são deliciosas para mim. Com uma cena musical anexada em seguida então, já ganhou o meu coração. Porém, talvez o único problema na narrativa seja entregar demais quando não precisa. Existem muitos pequenos conflitos que seriam muito mais interessantes em uma série ou novela do que em menos de duas horas para resolvê-las. Por exemplo, no elenco ainda tem a presença de Seu Jorge como Teylor, outro cantor da casa noturna que, infelizmente, vai perdendo a sua relevância e se torna apenas um convidado de luxo do filme. O que é uma pena já que sabemos que Seu Jorge também arrasa nas telas do cinema. Contudo, é preciso ressaltar a inclusão social que o filme aborda. Seja com Ímã assumindo a sua personalidade confiante, apesar dos problemas que a sociedade ainda preconceituosa insiste em causar, ou seja com Nádia trazendo à tona a linguagem em libras juntamente com a sua sensibilidade encantadora. Enfim, Paraíso Perdido possui a liberdade poética para ser brega e dramática como deve ser. Ainda mais quando se trata dos assuntos do coração.
Paraíso Perdido | Direção: Monique Gardenberg | Elenco: Lee Taylor, Jaloo, Erasmo Carlos, Júlio Andrade, Seu Jorge, Humberto Carrão, Marjorie Estiano, Mallu Galli, Hermila Guedes, Julia Konrad e Nicole Puzzi | Nacionalidade: Brasil | Gênero: Drama | Duração: 110 minutos |