O Processo é um documentário que recorda um dos períodos mais polêmicos da política brasileira no século 21. Dirigido e escrito por Maria Augusta Ramos, o filme tem como objetivo trazer os bastidores do Congresso Nacional durante o processo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016. A população brasileira vai recordar como se fosse ontem todo escândalo causado por causa das pedaladas fiscais, que hoje em dia, não são mais considerados crimes de responsabilidade. Se naquela época já era possível perceber as motivações do por que derrubar Dilma por causa da Operação Lava-Jato, agora em O Processo, a diretora mostra a arquitetura que foi feita para a destituição da primeira mulher eleita presidente do Brasil.
O filme inicia com a clara divisão que o Brasil se tornou após as eleições de 2014 com o plongée realizado sobre a região da esplanada em Brasília com uma área dominada pelo vermelho e a outra tomada pelo verde e amarelo. Esta imagem representa o campo de guerra que o País se tornou, supostamente, por causa do governo do PT. Sem qualquer tipo de narração em off, o que a câmera registra se torna autoexplicativo com os discursos, de ambos os lados, retirados das sessões que aconteciam na Câmara dos Deputados e no Senado. A única intervenção da diretora acontece com a inserção dos letreiros intitulando a fase em que o processo se encaminhava.
Apesar de ser a personagem central, Dilma pouco se faz presente durante o filme. Seus momentos ocorrem através das entrevistas coletivas ou quando está discursando no plenário. E ah, não esquecendo daqueles deputados que “lavaram a honra da família brasileira” durante a votação na Câmara para abertura do processo do impeachment e seu líder, o ex-deputado Eduardo Cunha, que também tem a sua queda na história, porém foi tarde demais. Por isso, o filme acompanha incansavelmente alguns dos protagonistas do impeachment como foram os senadores Lindbergh Farias e Gleisi Hoffmann (PT), o advogado-geral da União (AGU) José Eduardo Cardozo, a coautora da denúncia do impeachment, a advogada Janaína Paschoal e os senadores Raimundo Lira (PSD) e Antonio Anastasia (PSDB).
Por mais que o documentário abra mais espaço para defesa da ex-presidente, já que a oposição não permitiu a participação da filmagem nas suas reuniões, o filme não deixa de registrar os momentos de estrelismo de alguns personagens, como foi o caso de Janaína Paschoal. Ela não perdia a oportunidade de impor a sua histeria ou atacar o outro lado. Além de simplesmente aproveitar os seus 15 minutos de fama. Como dito anteriormente, a diretora não precisou de qualquer esforço para mostrar o quão frustrante foi o processo do impeachment, e tampouco necessitou de qualquer depoimento exclusivo para revelar ainda mais a personalidade dos envolvidos.
O Processo impacta pelo realismo que é retratado e conforme se desenvolve, a narrativa se torna desesperançosa. Mas o documentário também não deixa de recordar os problemas dentro do governo petista e de como isso enfraqueceu o apoio de uma boa parte da população. E mesmo este fator não ser o ponto central, o filme de Maria Augusta Ramos apresenta tópicos suficientes para mostrar a hipocrisia que foi o impeachment de Dilma Rousseff.
O Processo foi premiado no Festival Documenta Madri, na Espanha, no Festival Indie Lisboa, em Portugal e na Competição Internacional do Festival Internacional de Documentários Visions du Reel em Nyon, na Suíça. O documentário também foi ovacionado na sua estreia mundial, em fevereiro, na mostra Panorama do Festival de Berlim.
Direção e roteiro: Maria Augusta Ramos | Elenco: Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, Michel Temer, Gleisi Hoffmann, Aécio Neves, Lindbergh Farias, Janaína Paschoal, Raimundo Lira e Antonio Anastasia | Nacionalidade: Brasil | Gênero: Documentário | Duração: 1h40min