Dizem que é na dor que encontramos amadurecimento e motivações para seguir em frente. Por incrível que pareça em Deadpool 2 o anti-herói parece ter encontrado um caminho para trilhar. Dirigido por David Leitch, o longa que estreia nesta quinta-feira retoma as aventuras desbocadas e sujas de Deadpool (Ryan Reynolds) que forma a sua própria equipe de mutantes na esperança de salvar o jovem Russell (Lewis Tan) do soldado viajante do tempo Cable (Josh Brolin). E assim como no primeiro filme, esta sequência está recheada de referências do mundo pop e da própria Marvel, o que mostra o quanto o roteiro se apega a estes conteúdos para não deixar a peteca humorística cair. Os diálogos sagazes e rápidos são os maiores responsáveis pelo pique do filme do que necessariamente o enredo principal, que querendo ou não, beira ao comum.
O tom de Deadpool 2 está muito mais preocupado em ser engraçado do que politicamente correto e o filme conquista muito mais pelo descompromisso com o seu universo. Se alguma coisa não faz sentido ou simplesmente dá errado, ele instantaneamente assume a ficção que está inserido. Se, por exemplo, em Vingadores: Guerra Infinita existe uma dramaticidade em querer salvar o mundo, Deadpool está pouco se importando com seriedade e na luta incansável pela justiça. Mas também ser este mercenário que não poupa a vida de ninguém tem as suas consequências traumáticas. O que leva o personagem ter o seu fundo do poço para finalmente entender as mensagens subliminares que o “roteiro fraquinho”, como ele mesmo define, lhe direciona. É neste ponto que o personagem, talvez, tem a sua transformação pessoal para dar sentido a sua permanência na Terra. Porém, o desfecho é levemente decepcionante pois parece ser uma tentativa de virada que invalida tanto a nossa quanto a experiência de Deadpool nesta aventura.
Não existe Deadpool sem Ryan Reynolds e vice-versa. Nesta sequência, o ator só confirma ainda mais a genialidade deste “match” nas telas que dificilmente outra pessoa conseguiria unir o carisma e a sacanagem que o papel pede. O restante do elenco é formidável. Principalmente pela grande diversidade que a história oferece e sem qualquer problematização. Aqui vai desde do adolescente gordinho que reclama da falta de representação nos quadrinhos até o casal de lésbicas que oscila entre amor e ódio ao Deadpool. Os maiores destaques ficam com Josh Brolin, que mesmo sendo o principal vilão, arranca risos e suspiros, e também com a integrante do X-Force, Dominó (Zazie Beetz), com o seu super-poder chamado sorte. Sim, o fato dela ser sortuda é o que salva todos nesta história.
Deadpool 2 manteve o mesmo nível de entretenimento que o seu antecessor, e mesmo sem o terceiro filme confirmando, já deixou o público engatilhado para desvendar mais uma das suas loucuras. Com muito mais deboche e sacanagem, Deadpool continua divertindo sem qualquer compromisso. Um filme que tem Celine Dion, AC/DC e Cher na trilha sonora, só pode ser lacre, não é mesmo?
• Texto escrito originalmente para Correio do Povo
Direção: David Leitch | Roteiro: Rhett Reese, Paul Wernick e Ryan Reynolds | Elenco: Ryan Reynolds, Morena Baccarin, Josh Brolin, Zazie Beetz, Bill Skarsgård, Terry Crews, T.J. Miller, Brianna Hildebrand e Julian Dennison | Gênero: Ação e comédia | Nacionalidade: Estados Unidos | Duração: 1h59min