Estrelas de Cinema Nunca Morrem é um filme melancólico que retrata a tristeza dos últimos suspiros que uma atriz dos tempos de ouro de Hollywood podia dar. Foi assim que o diretor Paul McGuigan narrou a história de Gloria Grahame (1923-1981), uma estrela do cinema noir estadunidense que teve seu maior sucesso nas décadas de 1940 e 1950 e viu sua carreira decair conforme a idade avançava. Além dos escândalos sexuais que a ajudaram cair no esquecimento do público. Porém, ao passar uma temporada em Liverpool, Inglaterra, no fim dos anos 1970, ela conhece Peter Turner (James Bell), um ator iniciante com quem logo engata um intenso relacionamento e volta a se sentir inspirada pela vida novamente.
Confesso que até a noite desse domingo eu não sabia quem era Gloria Grahame e por pouco não creditei este filme como uma ficção. Mas logo dando uma espiadinha no Google, fiquei surpresa com a revelação de que a personagem interpretada por Annette Bening era real. Principalmente pela sinopse ser tão romântica, mas sem um propósito maior que pudesse me conquistar. (Eu ignorei completamente a frase “A True Story”). Mas em Estrelas de Cinema Nunca Morrem, a narrativa carrega este clima de nostalgia misturada com decadência justamente por esta solidão que uma mulher, acostumada com bajulos e sucessos, tem que enfrentar depois de certa idade.
O diretor Pal McGuigan consegue apresentar estas silenciosas dores que Gloria sofreu nos últimos anos de vida, ainda mais depois da descoberta de um câncer. Claro, tudo isso com a interpretação doce de Annette, tudo fluiu facilmente para que a protagonista nos soasse perfeitamente humana, e não como uma diva iludida de última categoria. É impossível não se deixar seduzir pelos toque que Annette apresenta em cena. A confiança que somente uma mulher com sua experiência pode exalar é realmente charmoso. James Bell acompanha o ritmo muito bem pois o papel de Peter é emotivo demais. Ele não tem que lidar somente com a volta de alguém que ama, mas com o pedido de socorro da mesma. E claro, a dinâmica do casal é contagiante.
Entretanto, as únicas falhas do filme foram não aproveitarem esta dramaticidade que Hollywood provocava na carreira de mulheres de meia-idade. Em tempos que o movimento feminista está mais em evidência e lutando por mais respeito em qualquer setor, esta seria a hora perfeita para que Estrelas de Cinema Nunca Morrem cutucasse a ferida que deixou em atrizes como Gloria. Outro problema do longa foi não se aprofundarem, ou até mesmo explicarem, as polêmicas que arruinaram a carreira da atriz. Um dos fatos que mais escandalizou na época foi ela ter se casado com o seu ex-enteado Anthony Ray, filho do diretor Nicholas Ray (1911-1979), que foi o seu segundo marido. Mas como o roteiro de Matt Greenhalgh foi baseado nas memórias do próprio Peter Turner, é compreensível o cuidado em não remexer nestas histórias.
Estrelas de Cinema Nunca Morrem é exatamente aquilo que promete: uma história de amor de cinema inspirada na vida real.
Film Stars Don’t Die in Liverpool (2017) | Direção: Paul McGuigan | Roteiro: Matt Greenhalgh | Elenco: Annette Bening, Jamie Bell, Kenneth Cranham | Gênero: Biografia | Nacionalidade: Reino Unido | Duração: 1h 45min |