Semana dos favoritos: RuPaul’s Drag Race

RuPaul’s Drag Race virou um guia espiritual na minha vida. Para muitos pode parecer absurdo a forma como deposito minha energia e atenção para filmes, músicas e até séries de televisão. Como é o caso de Drag Race. Mas a verdade é que muitos destes entretenimentos viraram meus companheiros ao longo da minha vida. Eu fui muito solitária quando criança. Com pais trabalhando fora, uma irmã adolescente que também trabalhava e estudava, minha única alternativa era ficar em casa – sozinha, porém protegida – assistindo TV a Cabo e conhecendo um mundo bem diferente. Com isso, passava tardes decorando coreografias da Britney Spears, esperando ansiosamente a hora de passar Friends e programando o videocassete para gravar algum filme bobinho da TNT. Muitos destes produtos e artistas me ensinaram coisas e formaram muito a minha opinião. Alguns buscam fé na igreja, por exemplo. Eu busco em uma música da Madonna. Alguns buscam ajuda em terapias. Eu faço minha terapia com filmes do Pedro Almodóvar.

Mas enfim, toda esta introdução foi para tentar explicar como me sinto, atualmente, com o programa apresentado por Ru Paul. Lembro perfeitamente da noite em que recomecei assistir a série, pois foi uma noite como a de hoje. Estava triste e não tinha sorrido nenhuma vez durante o dia. Fui procurar uma distração naquela roleta russa que é o Netflix e aí apareceu RuPaul’s Drag Race. Já conhecia o programa. Eu tinha assistido a primeira temporada na época em que Netflix nem era um embrião, entretanto nunca mais tive acesso para as demais temporadas. Foi aí que Ru Paul voltou para minha vida. O reality show que coloca 12 drag queens desconhecidas para brigarem pelo título de America’s Next Drag Superstar e o prêmio de 100 mil dólares virou muito mais que um entretenimento para mim.

Com o programa tive acesso a uma cultura nova e diferente. Principalmente com o conhecimento desta profissão maravilhosa que é ser drag queen, o que pra foi uma surpresa boa, pois tirou muito dos estereótipos que eu mantinha sobre elas. Para umas pessoas, drag queen é apenas um homem de peruca, na série a gente aprende que há um extenso trabalho por trás de glitters, hairspray e vestidos. A profissão é um entretenimento que não é fácil e nem um pouco barata. Existe preconceitos a serem enfrentados tanto pela profissão quanto pela sexualidade, existe discriminação racial, falta de apoio de família e da própria comunidade gay. Muitas queens já confessaram que “o seu tipo de drag” é incompreendida pelo público e possuem dificuldade de encontrar trabalho por causa disso. Porque sim, existe diversidade entre a proposta das drag queens que vão deste comediantes de stand-up, dançarinas, dubladoras até as que apenas participam ferozmente em concursos de beleza. É um mundo em infinita construção e o que não vai faltar é inspiração nestas artistas. E é exatamente isto que me atrai tanto no programa.

A inspiração é contínua para quem assiste. Com diversas pessoas com características muito distintas, mas absurdamente ricas, é impossível você não se inspirar e adotar os pensamentos, bordões, estilos e até mesmo tom de voz da sua drag queen favorita. Eu fiquei muito mais vaidosa depois que comecei a assistir Drag Race. Investi em maquiagens, aprendi a fazer contorno, unhas cumpridas são lei para mim, rio alta com direito a grito, estalo dedos para aplaudir, finjo que estou comentando meu dia que nem as participantes narram o episódio, aposto muito mais no carão e no improviso para fotos, nunca aceitar apenas o básico ou o “safe”, o look do dia – seja roupa, cabelo, bolsa ou sapato – tem que expressar a minha personalidade e por causa disso tudo, aprendi a gostar muito mais de mim. Os conselhos e experiências que tanto as queens quanto Ru Paul exploram no programa também contribuiriam muito para o que sou hoje. Até mesmo as piadas, as loucuras e os shades ajudam a colocar esta minha diva interior para fora. Pois assim como Ru Paul enfatiza a cada fim de episódio: se você não se amar, como diabos você vai amar outra pessoa?

Por isso que digo que o programa tem um forte poder sobre mim, pois além deste reforço na minha autoestima, Drag Race também é a minha salvação para meus momentos solitários. Independente do episódio, eu sei que qualquer um vai injetar um sorriso no meu rosto. Não é somente pela distração, mas assistir o programa provoca um sentimento genuíno e divertido que me faz dizer foda-se para o que me deixou triste e seguir em frente. O que me faz pensar que eu esteja viciada porque não quero enfrentar os problemas da vida real. Mas quer saber? Sashay away pra eles.

Como RuPaul’s tem 10 temporadas e mais 3 spin-offs, separei meus momentos favoritos para terem uma ideia das divas que tanto me fazem bem.

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