Encerrando a Maratona Oscar 2018

Sally Hawkins rouba meu coração em A Forma da Água

Ao contrário dos últimos anos em que dedico um post para cada filme candidato a Melhor Filme no Oscar, este ano acabei acumulando muitos filmes e poucos textos. Além de claro, estar um pouco atrasada com este meu especialzinho desta temporada que considero a minha Copa do Mundo. Mas para não ficar em falta e registrar os últimos  longas que assisti, vamos a um resumão mais direto tanto dos candidatos, e alguns vencedores do Oscar, a categoria principal e também outros que merecem o destaque.

Vamos por ordem de preferência e assim começamos com A Forma da Água, de Guillermo del Toro, que venceu muito mais que merecidamente os principais prêmios do Oscar com Melhor Diretor e Filme. O longa retrata uma linda história de amor entre duas criaturas totalmente distintas, mas que em nenhum momento demonstra ser um relacionamento impossível. Claramente vocês estão cansados de ouvir tanto sobre esta história e não é por menos. Poucos podem não perceber, mas discretamente, del Toro coloca personagens tão excluídos na realidade e os coloca como os principais heróis desta fantasia. Giles (Richard Jenkins) é um artista gay que vive escondido em sua casa e tem apenas a companhia da sua melhor amiga Elisa (Sally Hawkins), uma faxineira muda que se apaixona por um monstro capturado para pesquisas no laboratório secreto do governo americano onde ela trabalha. Lá ela compartilha os seus segredos e aventuras com a colega, e também amiga, Zelda (Octavia Spencer).

A dupla, com o apoio de Giles, precisa se defender do autoritarismo do chefe, o homem branco, bem sucedido, explorador e praticamente maléfico Richard Strickland (Michael Shannon). Não é incrível esta distribuição de papéis que del Toro colocou dentro desta aventura e por exatamente por isso, criamos tanta empatia pelo filme? A Forma da Água tem uma base simples, que não é difícil pescar as referências de fábulas infantis, mas aqui possui a maturidade e sensibilidade de transformar tudo em pontas de esperança. O longa resgata todo aquele fascínio que gostamos de assistir na tela do cinema com cenas lindas, músicas românticas e a prova de o verdadeiro amor existe em diversas formas e jeitos. Nota: ★★★★★

Margot Robbie dá um show de talento em Eu, Tonya

Eu, Tonya foi uma das melhoras surpresas que esta temporada poderia ter apresentado. O filme de Craig Gillespie é porrada atrás de porrada sobre a versão da ex-patinadora Tonya Harding (Margot Robbie), que ficou famosa mundialmente tanto por seu talento nas pistas de gelo, chegando a ficar em segundo lugar no Mundial, quanto por seus feitos nas Olimpíadas nos anos 1990. Entre eles, o bizarro caso em que o seu ex-marido Jeff Gillooly (Sebastian Stan) teria se envolvido, com mais dois caras, em um plano para quebrar a perna da principal concorrente de Tonya nos Jogos Olímpicos de 1994. O que prejudicou eternamente a carreira da ex-patinadora. A cinebiografia de Tonya Harding possui a proposta de contar sob o ponto de vista da ex-atleta toda aquela confusão que destruiu a sua vida e reputação na época, mas o filme consegue ir além disto pois ele apresenta uma nova forma de contar histórias biográficas. Eu, Tonya foge daquela narrativa clássica, e por muitas vezes, maçante com início, meio e fim. O diretor capta desde do primeiro instante a personalidade forte e rebelde da verdadeira Tonya e tempera o filme com esta energia que vai desde do explosivo ao desespero total.

O filme mistura ações com depoimentos do ex-marido Jeff, da mãe abusiva LaVona (Alisson Janey) e do maluco do Shawn (Paul Walter Hauser), e torna a experiência do público em algo com muito ritmo devido a excelente montagem ágil de Tatiana S. Riegel e, além claro, da trilha sonora excelente com rock dos anos 1980, para chocar qualquer júri elitista. Aqui, fica comprovado de vez o talento de Margot Robbie que tanto foi usada em papéis onde era a gostosa (a esposa que não usa calcinha em O Lobo de Wall Street, a mulher nua na banheira de espuma em A Grande Aposta e a vilã insuportável em Esquadrão Suicida) e agora se desapega de qualquer vaidade ao se entregar a este papel mais desafiante da sua carreira. A atriz domina durante a projeção inteira e facilmente se dispõe ao que o momento precisava. Sem truques ou exagero, Margot já ganhou o meu coração por Tonya. No Oscar, apenas Alisson Janey levou a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante por ter interpretado a pior mãe dos últimos tempos no cinema. Agressiva, impaciente e ignorante, LaVona é uma mulher amargurada pelas derrotas na vida e desconta em Tonya a frustração e também a pressão para que a filha seja vitoriosa em alguma coisa. Eu, Tonya não foi indicado e Melhor Filme, o que foi uma pena, já que tinha todos méritos para ser reconhecido. Nota: ★★★★

Tom Hanks e Meryl Streep dividem o protagonismo em The Post

Há muito tempo que o diretor Steven Spielberg não me entusiasmava com algum filme. Até que finalmente ele trouxe The Post: A Guerra Secreta com um elenco tão cheio de estrelas, que até o time do Barcelona se morderia de inveja. Com Meryl Streep e Tom Hanks na linha de frente, logo mais vem Sarah Paulson, Bob Odenkirk, Carrie Coon e Bradley Whitford para preencher a tela, logicamente o filme tinha tudo para ser espetacular. E foi. A sinopse traz mais uma investigação jornalística, desta vez produzida pelo Washington Post que tenta dar aquele famoso furo de reportagem ao revelar segredos e mentiras do governo dos Estados Unidos sobre a Guerra do Vietnã (1955-1975). O que provocou polêmica e uma briga feia com presidente na época, Richard Nixon (1969-1974), que tentou impedir a publicação de reportagens sobre o tema. O filme tem este tom de denúncia ao trazer discussões como a liberdade de imprensa, a guerra no estrangeiro e a política local com um presidente que não aceita críticas da mídia. Alguma coincidência?

Spielberg dirige The Post conforme estamos acostumados e é perfeitamente executado. O filme é estritamente mais agradável aos olhos dos colegas jornalistas que desfrutam, talvez, de uma rotina totalmente desconhecida já que voltamos no tempo e conhecemos uma apuração tradicional da profissão. É empolgante assistir a preocupação e a vontade de publicar uma reportagem que mudaria as páginas da história dos Estados Unidos. Desde da reunião de pauta até a impressão, o diretor sabe exatamente como apresentar estes detalhes importantes e aprofundar a essência do drama. Principalmente entre os personagens como é o caso do contraste da firmeza de Ben Bradlee (Tom Hanks) e a insegurança de Kay Graham (Meryl Streep), que exemplificam as responsabilidades que um editor e uma dona do jornal possuem dentro de uma publicação. The Post é mais um daqueles filmes que complementam e exaltam a importância que é o jornalismo em nossas vidas. Além claro de nos revelar tantos segredos mantidos por aqueles que mais nos enganam do que nos protegem. Nota: ★★★

Extras

Denzel Washington arrasa em Roman J. Israel

Só de ter o nome de Denzel Washington envolvido em algum projeto que rapidamente já tem a minha atenção. A principio ninguém sabia do que se tratava Roman J.Israel Esq. de Dan Girlroy, até que o Oscar indicou Denzel na categoria de Melhor Ator. Se não fosse por isso, talvez ninguém saberia da existência do filme que passou tão batido pelos cinemas americanos que apenas causou prejuízos aos bolsos do estúdio e no Brasil nem sequer estreou. O longa trata da história do advogado Roman J. Israel (Denzel) que entra em conflito pessoal quando começa a trabalhar para uma grande empresa de advocacia e vê seus princípios desmoronando quando percebe o pouco reconhecimento que as pessoas lhe dão.

A história é uma típica novelinha em que mostra os altos e baixos de um ativista social que acredita na defesa dos mais pobres do que a insignificância dos casos dos mais ricos, e que precisa encontrar forças para continuar lutando por seus verdadeiros ideais. Não vou mentir que senti um apreço pelo filme, especialmente pela atuação de Denzel que mostra toda a sua versatilidade, e também por debater constantemente questões moralistas e se vale a pena mudar quando a vida lhe dá as costas. Nota: ★★★

Mudbound vale apenas por Mary J. Blige e Carey Mulligan

Mudbound – Lágrimas Sobre O Mississippi foi um filme que me decepcionou devido a sua narrativa arrastada e sem um propósito. Duas famílias morando em uma fazenda rural no Mississippi, sob as mesmas condições, porém uma é negra e outra é branca, e o filme trata de mostrar as dificuldades que ambas vivem naquele pequeno lugar. Nem é preciso destacar que a família negra é a que mais sofre por causa do racismo na época, estamos nos anos 1940 nos Estados Unidos e onde existiam fortes leis de segregação. Porém, o filme de Dee Rees parece querer explorar o sofrimento e tenta equilibrar o nível de pobreza destas famílias como se realmente fosse algo justo. Infelizmente Mudbound erra ao inserir diversas situações cotidianas e sem amarrar linhas que pudessem construir algum valor.

Entretanto, é interessante como o filme dá voz para todos os personagens terem seus momentos de protagonismo e desabafarem sobre suas vidas. O destaque do filme fica para estreia de Mary J. Blige, indicada ao Oscar por Melhor Atriz Coadjuvante, nas telas e soube dar conta de Florence Jackson com grandiosidade, assim como Carey Mulligan que também merece o reconhecimento pela sua doce Laura. Mudbound  também foi indicado nas categorias de Melhor Canção Original, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Fotografia. Nota: 

Brooklynn Prince vive sem freios e filtro em Projeto Flórida

E literalmente eu encerrei a maratona Oscar com Projeto Flórida, de Sean Baker, que experimentou a mesma ideia de Boyhood – Da Infância à Juventude ao ligar a câmera e deixar acontecer. Me encantei pela naturalidade crua de uma comunidade pobre que tenta pagar o aluguel de um motel barato de beira de estrada e que não possuem grandes sonhos na vida. Mas apesar das dificuldades, os personagens estão pouco se preocupando com estas dores e tentam levar numa boa as adversidades e também as reclamações do gerente Bobby (Willem Defoe). O ator carrega um carisma natural devido a história, mas nada que justifique uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Ator, a única indicação do filme na premiação.

Ao contrário de Boyhood, eu gostei do filme por causa da espontaneidade das crianças, porque por mais que você se irrite com o comportamento delas ao mesmo tempo compreende o contexto daquele lugar. Moonee (Brooklynn Prince) vive tão a solta quanto a própria mãe Halley (Bria Vinaite) e por isso vive cada segundo com intensidade como se o mundo fosse um parque de diversões. Mas claro que não é sob aquela visão de criança fofa e ingênua. Moonee não tem filtros, briga e é tão temperamental quanto a sua mãe, uma adolescente tão infantil e sem educação quanto a sua filha. Claro que não demora para que diversas consequências dos atos desta família desfuncional acabem surgindo e encerrando esta temporada de férias das duas. Apesar de desnecessária tamanha duração do filme, Projeto Flórida mela demais o seu final ao pular de uma realidade tão forte e quebra toda uma sintonia para uma fantasia sem noção. Nota: 

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