Em Busca de Fellini é um filme que tem dois propósitos durante o seu desenrolar. O primeiro, homenagear um dos cineastas mais importantes do cinema italiano, Federico Fellini (1920-1993), e segundo, servir como um cartão postal de vários pontos turísticos da Itália. O que poderia ser uma mistura empolgante, infelizmente o resultado acaba ficando insosso demais. Começando com o conto de fadas de Lucy (Ksenia Solo), uma jovem que ao completar 20 anos resolve encarar alguns desafios pessoais após descobrir a doença terminal da mãe Claire (Maria Bello). A protagonista viveu sobre a excessiva proteção da matriarca, que a sempre afastou de qualquer mal ou sofrimento alheio, e com quem aprendeu sobre o mundo do cinema. Em especial aos clássicos norte-americanos de Hollywood. Após um dia esquisito, ela acaba conhecendo as obras de Fellini em um pequeno festival na sua cidade e cai de encantos com este cinema tão peculiar e diferente de tudo que já assistiu. O que desperta na garota a necessidade de encontrar o diretor italiano e questioná-lo sobre o seu trabalho, e claro, sobre a vida no geral. E, mais uma vez, após uma decepção dentro de casa, a jovem parte para a Europa em busca de seu sonho.
Baseado em fatos reais, Em Busca de Fellini poderia facilmente encaixar os seus desafios e torná-lo uma história interessante, já que o diretor Taron Lexton utiliza várias referências do homenageado, com uma mistura de realidade e fantasia. Entretanto, as situações que ocorrem ao longo do filme acabam exagerando na ingenuidade da personagem Lucy. Por mais que dentro de uma sala de cinema, devemos abrir a nossa mente e deixar uma história nos conquistar, aqui temos o problema dos clichês dos romances onde os casais exploram belas paisagens, mas onde não existe nenhum conflito. Assim como ocorre com a pequena família da jovem, onde Claire, acompanhada da irmã Kerri (Mary Lynn Rajskub), também fantasia com a viagem da filha enquanto assiste as obras de Fellini e assim, tenta entender o que instigou tanto Lucy a ir atrás do cineasta. E aqui está o problema da narrativa toda. A passividade e a tranquilidade com as ações que ocorrem entre os personagens e ninguém parece reagir de acordo. Além da insensibilidade e incoerência de alguém decidir viajar quando descobre que a mãe está morrendo. Mas enfim, são detalhes que até podem ser compreensíveis se for analisar de fato a essência das personagens principais.
A atriz Ksenia Solo possui a fragilidade exata para encarar uma personagem como Lucy. O tipo físico e o olhar encantado são ideais para protagonizar um filme sobre descobertas pessoais como este. Assim como não reclamamos de coadjuvantes como Angelo (Lorenzo Balducci) que carrega o mesmo espirito sonhador e sedutor, que felizmente acaba sendo mais um incentivador para as conquistas de Lucy. Os principais filmes que a norteam durante a viagem são A Doce Vida (1960) e A Estrada da Vida (1954), pois conseguem costurar as linhas da narrativa, já que mesmo sendo produções distintas, influenciam a aventura da protagonista que em cada passo, vai descobrindo tanto sobre si mesma e quanto ao mundo. Não é difícil se encantar com as belíssimas imagens até mesmo os diálogos inspiradores, como do próprio secretário de Fellini que atende inúmeras vezes as ligações de Lucy, chegam a mexer com nosso emocional. Só é uma pena que Em Busca de Fellini apele demais para o melodrama e a fantasia, ao invés de entregar um resultado agridoce, assim como é a vida. Assim como era Fellini.
• Texto escrito originalmente para site Correio do Povo
In Search of Fellini (2017) | Direção: Taron Lexton | Roteiro: Nancy Cartwright e Peter Kjenaas | Elenco: Ksenia Solo, Maria Bello, Mary Lynn Rajskub,Lorenzo Balducci, Paolo Bernardini e Peter Arpesella | Gênero: Drama | Nacionalidade: Estados Unidos | Duração: 1h33min