Não importa como é a sua família. A verdade é que nós sempre carregaremos uma herança genética em que teremos a opção de carregá-la ou não. Esta é uma das premissas do longa Como Nossos Pais, da diretora Laís Bodanzky que foi exibido na noite desse sábado, na 45ª edição do Festival de Cinema de Gramado. Protagonizado por Maria Ribeiro, o filme acompanha a rotina desgastante de Rosa, uma mãe, esposa e dona de casa que aparentemente vive sobre as suas próprias regras e sempre uma pilha de nervos. Pronta para se defender de qualquer ataque. Tudo desmorona quando descobre um segredo de família que a fará rever praticamente a sua vida inteira. Começando pela sua família. O marido Dado (Paulo Vilhena) é um ambientalista engajado pelo salvamento do meio-ambiente, mas esquece de que também tem uma casa para salvar. Suas duas filhas pequenas estão no auge da hiperatividade e da descoberta da autonomia. Não demorando muito para mostrar que possuem o mesmo temperamento dos pais. Enquanto uma é brigona, a outra é um doce de conforto. O pai de Rosa, Homero, interpretado lindamente por Jorge Mautner, é um artista entusiasmado que não se preocupa com o amanhã. Ele é responsável pelas melhores cenas e falas do longa. Ele representa a calmaria que falta na vida de Rosa. A protagonista é uma versão mais nova de sua mãe, Clarice (Clarisse Abujamra), que não poupa nos comentários ácidos e diálogos pertinentes.
Como Nossos Pais pode e, acredito que, deve ser considerado um longa feminista. A proposta de Laís Bodanzky é exibir a história que acontece diariamente dentro da casa de milhares de mulheres pelo mundo. A mulher que tem que interpretar todos os papéis possíveis dentro de uma sociedade: filha, mãe, esposa, irmã, cunhada, dona de casa, empregada, chefe, amante e entre outros. O filme representa esta rotina de tarefas e dúvidas intermináveis que Rosa tem que encarar. Mas claro, ela não encara com um longo sorriso na cara, pois ela é humana e não tem pudores em esconder isso. O estresse, juntamente com as duas bombas que recebe da mãe, são demonstrados dignamente por Maria Ribeiro, que fala palavrão e não se sente mau em mandar o chefe para aquele lugar. A atriz exibe uma personagem clara dos nosso tempos de que tem que carregar a tarefa de ser dona de casa, mas não é considerada a chefe da família. E ela tem todo direito de estar puta com isso. Pois até para mim, que não tenho uma família para administrar, pude sentir cada fio de raiva que a personagem tinha que encarar. Além de Maria, outra dupla que merece todos os aplausos são os atores Jorge Mautner e Clarisse Abujamra, que são os meus favoritos em cena. Ele, por ser completamente o oposto das mulheres cheia de obrigações do dia a dia, transforma o cenário com sua delicadeza e inteligência. Repleto de frases de efeito, ele é a figura paterna que foge das responsabilidades da família. Não é de hoje que o pai sempre é considerado o cara legal da família, e que deixa todas as responsabilidades para a mãe, já que é ele que tinha que correr atrás dos sonhos profissionais para sustentar a família. Papel que não cabia para a mãe, que tinha que tomar conta da casa e dos filhos. O que dá para enxergar perfeitamente no ambiente de Rosa com Dado. Já Clarisse, tem aquela pose de braba, o papel da mãe chata que não deixa os filhos se divertirem, mas que depois que você entra em sua casa, não quer mais ir embora. A atriz é forte e explosiva em cena, o suficiente para influenciar na atmosfera do longa.
A diretora Laís Bodanzky transformou uma simples história de família em um refúgio de que, nós, os filhos, podemos, e devemos, aprender com os erros do passado dos nossos pais. Evidentemente, Rosa acabou seguindo as mesmas escolhas da mãe ao ter um casamento com alguém que pensa, e vive, de um jeito muito oposta da sua. E claro, não existe um manifesto tão feminista quanto a decisão de Rosa de fazer diferente e não perder mais tempo da sua vida ao ter que obedecer as regras, que um dia, alguém disse que teríamos que seguir. Rosa é o espelho de uma geração que quer corresponder as expectativas da perfeição em todas as áreas na sociedade. Um peso que é cada vez mais cobrado, principalmente para as mulheres. Mas graças ao mapa de Laís, Como Nossos Pais é a saída para toda mulher que queira trilhar o seu próprio caminho.
Como Nossos Pais (2017) | Direção: Laís Bodanzky | Roteiro: Laís Bodansky e Luiz Bolognesi | Elenco: Maria Ribeiro, Paulo Vilhena, Clarisse Abujamra, Jorge Mautner, Annalara Prates, Felipe Rocha e Sophia Valverde | Gênero: Drama | Nacionalidade: Brasil | Duração: 1h42min
• Filme assistido na 45ª edição do Festival de Cinema de Gramado
[…] Como Nossos Pais saiu como o grande vencedor da 45ª edição do Festival de Cinema de Gramado com seis Kikitos na premiação que ocorreu na noite deste sábado, em Gramado. O longa dirigido maravilhosamente pela Laís Bodanzky levou prêmios como, claro, de Melhor Direção, Melhor Filme, Melhor Montagem, Melhor Atriz Coadjuvante para Clarisse Abujamra, Melhor Ator para Paulo Vilhena e Melhor Atriz para Maria Ribeiro. Estes dois últimos troféus foram entregues de forma equivocada e muito errada, pois devido aos concorrentes da dupla, eles eram considerados os menos fortes a ganharem os seus prêmios. Maria Ribeiro tinha Magali Biff por Pela Janela e Camila Morgado em Vergel, com dois papéis superiormente mais fortes em comparação ao seu trabalho, e Paulo Vilhena foi a maior zebra e digo que ele nem deveria estar ali, queridinho. […]
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