O novo filme da diretora Sofia Coppola, O Estranho que Nós Amamos, chega aos cinemas nesta quinta-feira após ser muito bem recebido no 70° Festival de Cannes. O júri do festival deu para a cineasta o prêmio de Melhor Direção pelo longa que conta a história de seis mulheres que moram isoladas em um internato no estado da Virgínia, nos Estados Unidos, durante a Guerra Civil. Mulheres que encontram no casarão um refúgio da guerra, já que suas famílias passam por dificuldades financeiras. Em um belo dia, o soldado John McBurney (Colin Farrell) é resgatado pelo grupo após ser gravemente ferido durante um dos combates. A parti daí, tensões e paixões despertam naquela casa que aparentemente, não tinha nenhum sinal de vida.
A mesma trama baseada no livro escrito por Thomas Cullinan foi dirigida por Don Siegel e estrelada por Clint Eastwood em 1971, desta vez é repaginada por Sofia Coppola que deixa que Nicole Kidman, Kirsten Dunst e Elle Fanning contarem o seu lado da história. Diferentemente do que foi exibido no longa de Diegel, tudo é contado sob o ponto de vista das mulheres daquela casa que há muito tempo não interagiam com o sexo masculino. O círculo amigável que toma conta dos personagens é a faísca à espera de um combustível para incendiar aquela casa. A diretora conduz com muita sensibilidade este romance com vários toques de mistério. Afinal, o clima daquele internato, principalmente entre o núcleo feminino, vai formentando para que o caos aconteça a qualquer momento entre as meninas, mas a virada que Sofia coloca em jogo transforma o filme dignamente.
O Estranho Que Nós Amamos seria um filme perfeito se não fosse por um erro incoerente da diretora em deixar a fotografia ser utilizada somente com a luz natural dos ambientes internos. Não há explicações para que Nicole Kidman desapareça enquanto caminha dentro de casa ou para que a cena de jantar seja tão desfocada a ponto de espremer os olhos para identificar quem é que está em cena. A escolha desta escuridão da diretora é incomodativa pois atrapalha na simplicidade de se sentar e assistir um filme. Enfim, esta falha da luz, não estraga totalmente este romance moderno de Copoola. O filme consegue compensar no todo resto. O elenco é formidável ao apresentar, de cada maneira, as personalidades do trio protagonista. Miss Martha (Nicole) é a mais racional da instituição, mas claro, como todo ser humano, não quer resistir ao charme de um soldado. Edwina (Kirsten) é uma adulta reprimida que obedece a cada ordem dada pela sua superior e é quem mais enxerga em John a oportunidade de uma nova vida. E tem Alicia (Elle) que é o retrato da adolescente rebelde que clama por atenção do homem da casa a qualquer custo.
Na companhia de mais três crianças, o núcleo feminino compreende o papel de dividir este filme que tem tudo para soar clichê, mas o roteiro enxuto foge de entregar um resultado antiquado. Sofia soube exatamente da onde partir e terminar a história, sem deixar pontas soltas. E melhor, deixa a narrativa eletrizante com a surpresa que Colin prepara para o terceiro ato. O ator sabe usar o charme vulnerável que o personagem se encontra para poder manipular e conquistar quando quiser. Além, claro, de nos fazer mudar de ideia sobre John instantaneamente no decorrer do filme.
Desde Maria Antonieta (2006) que, particularmente, Sofia Copoola não me empolgava com um filme feminino. Bling Ring: A Gangue de Hollywood (2013) e Um Lugar Qualquer (2010) passaram tão despercebidos que mal causaram alguma reação. Mas é bom vê-la triunfando com O Estranho Que Nós Amamos, que não só coroa a sua filmografia, mas como firma uma nova era de mulheres, seja atuando, escrevendo, dirigindo, no cinema.
• Texto escrito originalmente para o site do Correio do Povo