Nesta rotina que insiste em passar despercebida e numa velocidade que mal percebo, assisto filmes e não consigo inspiração o bastante para comentá-los. Para não ficar me pressionando e não tornar uma obrigação algo que gosto de fazer, vou fazer um resumão dos últimos filmes que conferi para registro e também para atualizar o meu pobre blog.
Guardiões da Galáxias Vol.2 ★★★: Eu sempre digo que não curto muito filmes de super-heróis, mas a verdade é que volta e meia lá estou assistindo alguém salvando a Terra de seres malignos. Confesso que não sabia da existência dos Guardiões da Galáxia até o lançamento do primeiro filme lá em 2014 e só fui assistir este ano antes do lançamento da sequência. Afinal, todos falavam tão bem do longa e da sua trilha sonora incrível. Obviamente não tem como fugir do carisma e da diversão que o primeiro filme trouxe e que consegue manter o ritmo no segundo. Talvez este volume dois dirigido por James Gunn tenha um bônus a mais por causa da fofa presença de Baby Groot (Vin Diesel) que proporciona as cenas mais hilárias e absurdamente queridas.
Líder da tropa toda, Peter Quill (Chris Pratt) desta vez tem uma missão pessoal a resolver acompanhado pelos colegas Gamorra (Zoe Saldana), Drax (Dave Bautista) e Rocket (Bradley Cooper), que repetindo a façanha, conseguem manter a simpatia e timing cômico sempre em alta. As músicas que acompanham a aventura do grupo casam perfeitamente com cada cena, parecendo até um longo videoclipe em tela grande. O meu momento sonoro especial fica por conta de The Chain por Fletwood Mac. Todo o enredo apenas reafirma o sentimento familiar que Guardiões da Galáxia acertou em investir desde do seu início destes pequenos seres desgarrados que sempre arranjam espaço para mais um.
Corra ★★★: O filme foi um dos mais ótimos acertos recentes do cinema ao usar uma temática social e abusar da sua imaginação. Corra tem um clima de suspense devido a presença de um personagem negro na casa da família da namorada que é escancaradamente racista. Veja as chances! Chris (Daniel Kaluuya) está ótimo no papel do jovem que passa o final de semana com os pais de Rose (Allison Williams) e que nem tão inocentemente assim, percebe que está pisando em um território que vai além do estranho.
O roteiro e direção de Jordan Peele possui muitos preconceitos que um negro sofre diariamente e isto é um dos triunfos do longa. Tudo isso pois o diretor soube colocar em pauta o racismo e também deu a volta por cima com estes embates. E o mais legal é que é a reviravolta caminha com suspense enquanto descobrimos qual é o mistério que ronda aquela casa e também coloca o terror em ação quando Chris tem seu momento de vingança. Corra é um dos ótimos exemplos em que se coloca um assunto delicado e o conta de um jeito bem mais interessante. Entretanto, os minutos finais deixam muito a desejar ao querer ser engraçadinho em um momento indesejado. Mas também nada que estrague a ótima produção de Peele.
Laerte-se ★★★: O primeiro documentário produzido pela Netflix Brasil não poderia ter se saído tão bem quanto foi com Laerte-se. Dirigido cuidadosamente por Eliane Brum e Lygia Barbosa da Silva, o filme descasca a cartunista Laerte que depois dos 60 anos assumiu sua homossexualidade e sua identidade feminina. Usando o bom humor como tom, a cartunista conta sua história para a jornalista Eliane Brum que a acompanha durante a reforma de sua casa. Uma ótima simbologia com a sua vida e também com o seu corpo, já que boa parte da conversa que Laerte discorre ao longo do documentário é sobre o que é ser mulher física e mentalmente. O que vai além de roupas e cabelos, mas também o que muda no coração e na mente de uma transgênero.
O documentário é sensível e paciente ao tocar na história de Laerte. Principalmente por trazer a reflexão de temas como a homossexualidade e transgênero numa plataforma acessível por todos. Quem sabe assim seja possível diminuir a intolerância e preconceito com uma simples sessão para compreender o outro, né? Laerte-se possui os elementos típicos de documentário, mas a narrativa se torna gostosa pois ficamos a vontade com o protagonista. As intercalações com as charges revelam aos poucos como foi a sua transição. Eu, que sabia tão pouco sobre quem era Laerte, terminei o filme com a sensação de que a sempre conheci. Um dos ótimos feitos que Laerte-se faz é não precisar narrar cronologicamente a vida da chargista, mas pegando os tópicos que tornaram Laerte na mulher que é hoje.
Strike a Pose (2016) ★★★★: Aproveitando o embalo de documentários disponíveis no Netflix, finalmente pude conferir o filme que traz a tona a vida pós-Madonna dos ex-dançarinos da turnê Blond Ambition, de 1990. Particularmente falando, eu considero esta fase da cantora como a mais importante da sua carreira. Foi o momento de renascimento de Madonna após um divórcio conturbado com Sean Penn e também foi com álbum Like A Prayer que ela se posicionou no mundo da música e marcou o seu lugar na história com um disco maduro e cheio de mensagens de empoderamento feminino em uma época que mal se falava sobre feminismo. Com isso, a turnê Blond Ambition carregava um peso ainda maior para Madonna que tratava de revolucionar o pop e mostrar que era definitivamente uma artista de verdade. E não foi somente para ela que esta fase significaria algo mais, mas também para sete dançarinos que foram escolhidos a dedo pela cantora. Totalmente inexperientes do show business, os meninos se deslumbravam com o sucesso e o grande reconhecimento que este trabalho trouxe para suas vidas. Porém, uma hora os holofotes se apagam.
Strike A Pose é um filme maravilhoso, sensível e real. O documentário recorda a história dos dançarinos que ao mesmo tempo que lidavam com a fama também tinham bandeiras como o homossexualismo e a epidemia da Aids para conciliar em uma década tão preconceituosa como o fim dos anos 1980 e início dos 1990. Com o também documentário Na Cama Com Madonna (1991), eles se transformaram em um símbolo e inspiração para a comunidade gay. Apesar de algumas mágoas, o longa dirigido por Ester Gould e Reijer Zwaan não tem como objetivo atacar Madonna e colocá-los como vítimas, mas de revelar o amadurecimento pessoal de cada dançarino. Afinal, todos afirmaram que cada erro e loucura que cometeram no passado foi essencial para se tornarem quem são hoje. E se cada jovem puder aprender com o pouco que eles puderam compartilhar, seja na dança ou com sua história, tudo terá valido a pena.