Minhas mães no cinema: Penélope Cruz em Volver

É até injusto colocar qualquer filme de Pedro Almodóvar em algum especial, visto que sou desesperadamente apaixonada pelo seu trabalho. Ele é, talvez, o único homem capaz de entender a alma feminina. Especialmente das mães. O diretor espanhol muito já colocou a própria mãe, a dona Francisca Caballero, para atuar em muitos de seus filmes. Entre eles, Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos (1988) e Ata-Me! (1989). Mostrando que a cumplicidade dos dois era muito grande. Ela faleceu em setembro de 1999, mas já tinha se aposentado dos sets de filmagens depois de Kika (1993). Podemos ver a influência de Francisca em alguns longas, como as aldeias do interior da Espanha, que tanto já serviram de cenário. Além de que esta relação foi fundamental para que Almodóvar entendesse o universo feminino. Principalmente o lado maternal das mulheres.

Almodóvar nunca poupou no drama e nas peculiaridades em suas histórias. Em Volver (2006), o que seria mais um complicado drama familiar, ele é capaz de girar e tornar tudo em um atípico conto feminista. Sim, eu considero muito de seus filmes feministas, ainda mais que em todos, o espanhol faz questão de enaltecer a tamanha força da mulher. Seja no âmbito pessoal, profissional, emocional, amoroso, e em qualquer lugar, sempre vai ter alguma atriz maravilhosa nos representando. Em Volver, temos Raimunda (Penélope Cruz), uma mãe que tem milhões de empregos para sustentar a família. Ela é faxineira, cozinheira e qualquer coisa que precisar. Após o marido perder o emprego, ela dobra o acúmulo de tarefas para não deixar faltar nada em casa. Até que a personagem se depara com os fantasmas do passando tomando forma através da sua filha Paula (Yohana Cobo) e da mãe Irene (Carmen Maura). Tudo isso porque a filha, infelizmente, acaba tendo o mesmo destino que a mãe quando era mais jovem: é abusada sexualmente pelo pai. Entretanto, Paula muda um pouco o rumo das coisas, quando consegue se defender e matar, na verdade, o seu padrasto. Dá para ligar os pontos, não é? Aí a trama se volta nesta aventura em o que fazer com o corpo do falecido e na união de mãe e filha, agora parceiras no crime.

É difícil tentar explicar uma história de Almodóvar que sempre nos apresentou singularidades e quebra-cabeças instigantes em seu trabalho. Mas em Volver, tudo é tão simples que a gente não estranharia se alguém viesse nos contar uma história como a de Raimunda. Por envolver tantas mulheres e casos de amor, morte e vingança, é fácil digerir cada pedacinho deste enredo. O caso da personagem de Penélope é tão comum que nós compreendemos tanto a dor dela de ter sofrido um estupro do próprio pai e de ver a filha quase passar pelo mesmo. Mas Raimunda finalmente terá a paz que tanto lhe faltava quando sua mãe “retorna dos mortos” para lhe ajudar neste momento tão estranho. Só que esta volta foi mais difícil do que se esperava. Afinal de contas, ninguém esperava este retorno. Irene sempre sofreu por ter ficado calada na época em que sua filha foi atacada pelo marido. Mas quando surgiu a oportunidade, ela não demorou para fazer vingança. Só que pedir perdão, ainda mais para uma filha que fugiu de casa após o caso, tampouco é fácil. E somente um cara com a intensidade, e muita sensibilidade, de Almodóvar para nos deliciar com uma forte história destas mães que fazem de tudo pelas filhas.

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