Direção: Pablo Larraín | Roteiro: Noah Oppenheim | Elenco: Natalie Portman, Peter Sarsgaard, Greta Gerwig, Billy Crudup, John Hurt, Caspar Phillipson, Lyndon B. Johson | Gênero: Drama | Nacionalidade: Estados Unidos | Duração: 1h40min |
Jackie é um dos filmes que mais me decepcionou neste início de temporada. Depois de tantos elogios em Festivais, críticas enaltecendo a performance de Natalie Portman e rumores de muitos Oscars para a produção, inclusive de Melhor Atriz para Natalie, eu só podia acreditar que se trataria de uma grande obra conduzida pelo estreante em terras norte-americanas, Pablo Larraín. Mas como canta Lady Gaga: era apenas uma perfeita ilusão. Desde dos minutos iniciais, a tentativa do clima intimista toma conta aos nos colocar como testemunhas do encontro entre Jackie Kennedy (Natalie), recém viúva do ex-presidente John F. Kennedy, com o jornalista da revista Life, Theodore White (Billy Crudup). Ele que tratará de relatar a dor da ex-primeira-dama dos Estados Unidos após duas semanas da tragédia que matou Kennedy em um desfile em carro aberto em Dallas, no Texas, em novembro de 1963. Este acontecimento acabou marcando muito mais a marca Kennedy na história do país do que os feitos de John na Casa Branca. Algo que se torna muito evidente durante o desenrolar do drama que só comprova que a grande preocupação da família Kennedy era não se tornarem esquecível pelo povo. Jackie faz questão de deixar isto claro durante a cena em que acompanha o despachar do corpo do marido. Esta cena, assim como outras do filme, mostra como a personagem é superficial em se preocupar apenas com as aparências do que com a perda do homem que amava. Em nenhum momento é possível sentir esta conexão entre Jackie e seu marido. Não há uma história, uma imagem ou qualquer detalhe em que seria possível entender aquele relacionamento. Há apenas a pose fria e calculista de Jackie em planejar o funeral em um desfile de grande porte para encerrar a sua passagem na Casa Branca. Na verdade, não há contexto e aprofundamento algum sobre a história e a personalidade de Jaqueline Kennedy.
É arriscado em querer conhecer alguém a partir de algum ponto específico na vida desta pessoa. Em Steve Jobs, a execução funciona perfeitamente pois são três fases que se encaixam lindamente na história deste personagem. Em Jackie, a condução é instável, oca e extremamente fútil, e acabou me provocando uma impressão um tanto arrogante da ex-primeira-dama que só choraminga para o repórter, quando não é grosseira sem motivo algum. Jackie parece ser mais um documento do quanto a “classe média também sofre” do que um registro de dor emocional e do choque de testemunhar a morte do marido. Confesso que fico dividida quanto a atuação de Natalie Portman em cena pois sua performance é no mínimo questionável. Se por um lado, ela apresenta tecnicamente os trejeitos da ex-primeira-dama, pelo outro, a atriz não entrega nenhuma alma ao personagem. Natalie não fez mais que a obrigação de ter estudado para se aparecer com a Senhora Kennedy, mas isso não foi o bastante. Claro, o roteiro e a direção do filme pouco ajudaram a desenvolver uma mulher mais simpática e interessante. A produção entregou apenas a forma física e esqueceram de dar alguma humildade a personagem-título. O sotaque estranho (e irritante), o andar rígido e a expressão facial totalmente paralisada mostram a competência técnica de Natalie, mas está longe de ser algo totalmente plausível de ser uma interpretação boa e completa. Vocês reclamam tanto que Meryl Streep não deveria ser indicada este ano por Florence – Quem É Essa Mulher?, que eu digo que foi Natalie que roubou a vaga de Amy Adams.
Jackie falha ao tentar nos entregar um relato humanista desta personagem ícone para a história dos Estados Unidos e inacessível para o povo. O clima intimista que mencionei anteriormente foi apenas uma tática da direção de querer dramatizar, e até de poetizar, a situação que Jackie passa, mas na real, acaba tornando o filme chato pra caramba. Larraín errou em querer posicionar os personagens como se estivessem chocados com a tragédia e acabou os deixando entediados com os eventos do longa. Parece que um assassinato transmitido ao vivo em rede nacional é a coisa mais banal que pode acontecer a eles. Você só vai realmente sentir alguma coisa quando Natalie Portman chora verdadeiramente em frente ao espelho enquanto limpa o sangue na sua roupa. No demais, é muito brega seus momentos em que compara o falecido marido ao musical Camelot e se embebeda enquanto veste seus melhores vestidos. São maçantes suas conversas sem sentidos com o padre interpretado por John Hurt, um de seus últimos papéis no cinema antes de falecer, que inclusive, é o único destaque positivo do longa. Enfim, Jackie teria tudo para ser um filme em que poderíamos conhecer o íntimo de uma figura política que poderia ter se revelado um mulher surpreendente ao mostrar que as primeiras-damas são mais que um acessório decorativo. Mas infelizmente, o longa de Pablo Larraín perdeu esta chance de fazer história.