Nocturnal Animals | Direção e Roteiro: Tom Ford | Elenco: Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Michael Shannon, Aaron Taylor-Johnson, Isla Fisher, Karl Glusman, Armie Hammer e Laura Linney | Gênero: Drama e Suspense | Nacionalidade: Estados Unidos | Duração: 1h57min
Existem filmes que foram feitos apenas para reforçar o amor que tenho pelo cinema. Existem filmes que quando termina a sessão dá uma vontade enorme de abraçar toda a produção e guardar só pra mim. Sem dividir com ninguém. Sou muito egoísta em relação a filmes, desculpe. Em Animais Noturnos, o segundo filme dirigido pelo estilista Tom Ford, é possível ter este tipo de sentimento, pois ele tem uma sedução que vai além do estético apresentado do início ao fim. Mesmo com clima de suspense no ar, acredito que este longa desperte um envolvimento que te trará um certo tipo de prazer, ou dor, ao assimilar todos os detalhes que o filme apresenta. Animais Noturnos é perturbador, é envolvente e principalmente, é de despedaçar o coração.
Animais Noturnos apresenta duas (ou três?) histórias indiretamente entrelaçadas. Susan (Amy Adams) é uma curadora de arte muito bem sucedida no seu trabalho, ao contrário de sua vida pessoal, que é só bem vista por quem está de fora de sua casa chique, moderna e com milhões de empregados. Entre um dia maçante e outro, recebe o manuscrito do primeiro livro escrito pelo seu ex-marido Edward (Jake Gyllenhaal), com quem não fala há muito tempo. A obra é recebida com certo temor, afinal, Susan é a inspiração para aquela história ter sido escrita. E ela sabe muito bem que aquele relacionamento não terminou bem. Principalmente para ele. O que apenas serviu de motivação para a sútil vingança de Edward ao escrever esta história que ficará marcado para sempre, não só nele, mas também nas noites de insônia de Susan.
Sutileza é a palavra certa para poder descrever a direção de Tom Ford. Assim como em Direito de Amar, sua primeira aventura cinematográfica, o visual importa muito. O que apenas complementa e enriquece a trama toda na tela. A riqueza e ostentação que cerca a vida de Susan contrastam tanto com a essência que existia no seu casamento com Edward. Apesar de ter idealizado uma vida simples com ele, Susan não consegue ir além do esperado. Não sabendo mais lidar com a desmotivação que tomou conta de Edward, que não arranca na carreira de escritor, ela abandona o barco assim que vê o primeiro porto mais perto. O que machuca profundamente a alma de seu ex-marido, sensível e que é tomado por surpresas após o fim do relacionamento. Aquela cena do carro, abaixo de chuva, meus amigos…
O filme só poderia dar certo com atores dignos para protagonizá-lo. Amy Adams se tornou uma atriz que carrega consigo uma delicadeza arrebatadora que só a engradece ainda mais em cada trabalho. Infelizmente, ainda não assisti A Chegada, que como dizem minhas fontes, está tão bem quanto em Animais Noturnos. Aqui, ela interpreta aquela figura entediada, ciente das escolhas erradas que tomou na vida e que após ler aquele livro, indiretamente feito para ela, tenta correr atrás do prejuízo. A sua cena final foi uma das melhores já feitas para o cinema. Que coisa mais genial. Jake Gyllenhaal é outro que apenas tem que receber elogios. Desde O Abutre, não consigo mais vê-lo como aquele típico galã, mas para um ator que só cresceu na sua jornada cinematográfica. A sensibilidade que transmite através de Edward é extremamente tocante, porém, isto acaba se tornando a sua principal fraqueza. Em ambas as histórias.
A subtrama que é narrada através da leitura de Susan sobre manuscrito é a que carrega mais o tempero de suspense, com toques de terror, afinal estamos lidando com um caso que poderia infelizmente ocorrer com qualquer um hoje em dia. Apesar de não ser nada relacionado ao passado do ex-casal, a história serviu para exemplificar as feridas que ficaram na pele de Edward. Tanto que personagem da esposa é interpretada por Isla Fisher, e não por Amy, o que ocorreria se o caso fosse “real”. Ao contrário do papel do marido, que daí traz Gyllenhaal na linha de frente, sendo o marido fraco que deixou a esposa e filha serem levadas por outros “animais noturnos”.
Tom Ford levou meu coração com Animais Noturnos. Literalmente. O filme é o mais puro retrato de como a vingança é um prato que se come frio, bem vestido e sozinho.