Direção: Paul Verhoeven | Roteiro: David Birke | Elenco: Isabelle Huppert, Virginie Efira, Laurent Lafitte, Anne Consigny, Christian Berkel, Judith Magre e Jonas Bloquet | Gênero: Drama | Nacionalidade: França | Duração:2h10min
Não tem nada que eu tenha mais medo, nesta minha jornada cinematográfica, do que críticas e comentários alheios sobre determinados filmes. Elle vem sendo elogiado infinitivamente por todos, e principalmente por quem deposito minha cega confiança. E não é aquele temor de que o longa seja superestimado, mas é por ficar receosa por acreditar que não irei receber tão bem aquela história. Mas que nada, meus amigos. Elle é um filme carregado de motivos para tantos aplausos.
O longa começa agressivo. Sem anúncios, sem preparação alguma, acabamos sem reação com o que acabou de acontecer. Mas assim como quem troca de roupa, Michelle LeBlanc (Isabelle Huppert) segue a sua vida, como se nada de ruim tivesse acontecido ali, na sala de sua casa. E novamente somos pegos de surpresa com esta mulher que conhecemos, em um dos pontos mais frágeis da sua vida, e transforma as adversidades em desafios. Já testemunha, e meio que cúmplice, de uma tragédia familiar, a personagem de Isabelle Hupert aprendeu desde cedo a dominar suas emoções e superar os seus problemas o mais rápido possível, pois suas experiências passadas lhe ensinaram o quanto o ser humano pode ser baixo. Inclusive ela mesma.
Elle é o retrato da vingança pessoal que assola até quem não tem nada a ver com a história. É um filme sobre a consequência da consequência de um crime que ocorreu anos atrás e que aparentemente, ninguém esqueceu. Fatos que facilmente podemos exemplificar com casos que assistimos, lemos ou ouvimos diariamente nos noticiários e que, de repente, aparecem milhões de justiceiros em cima. E assim ocorre com Michelle e sua família que, infelizmente, carregam uma carga a mais nas suas costas. Mas o bom é que em nenhum momento, a protagonista se abala com isso ou por qualquer outra coisa. Ao contrário, ela se fortalece toda vez que algo de ruim lhe acontece. Seja no seu trabalho ou na vida pessoal, Michelle busca soluções e não mais confusões para o seu lado.
O filme é dominado por Isabelle Hupert do início ao fim. Não há um momento em que você não fique instigado com aquela mulher ímpar e pelo o que vai acontecer em seguida. Fazia tempos que uma personagem não me atiçasse tanto como Michelle LeBlanc. Longe de ser uma pessoa afetuosa, ela demonstra o seu interesse, e até o seu carinho, com atitudes que podem ser vistas como rudes, mas que no fundo, são por uma boa causa. Afinal, sempre dizem que quem se importa de verdade, vai te dizer coisas que podem doer, mas que são pelo seu próprio bem. E Isabelle ultrapassa todos os desafios em cena de forma magistral e até então, inédito para mim. Seu olhar, sua fala, e até o seu timing cômico, são entregas maravilhosas e no ponto mais do que certo.
Elle é daquelas histórias que você não pode entregar muito para quem não assistiu, porque vai acabar estragando a experiência tão incrível e eufórica que é esta obra. Sim, é uma baita obra de arte. E tudo se deve a uma direção gigantesca de Paul Verhoeven que soube colar diversos conflitos e unificá-los racionalmente nesta mulher que não tem medo de nada. Nem de Isabelle Huppert.